Translinguagem, educação (não) inclusiva e políticas linguísticas: reflexões sobre o ensino de inglês no Brasil a partir da perspectiva de duas alunas surdas

Autores

  • Matheus Lucas De Almeida Universidade Estadual do Ceará
  • Antonio Henrique Coutelo de Moraes Universidade Federal de Rondonópolis, Rondonópolis, MT, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.63033.pt

Palavras-chave:

Ensino de língua inglesa, Políticas linguísticas, Educação inclusiva, Translinguagem, Surdos

Resumo

Discussões e estudos sobre aquisição de línguas adicionais têm ganhado considerável visibilidade na agenda acadêmica e nos espaços educacionais. Contudo, a realidade brasileira ainda impõe dificuldades ao processo de ensino-aprendizagem de línguas adicionais por estudantes surdos. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar as concepções de duas alunas surdas matriculadas em escolas públicas do Recife, Pernambuco, sobre o ensino de inglês para surdos. Para tanto, baseamos nossas discussões em Calvet (2007), Wei (2017), Barbosa, Freire e Medeiros (2018), Souza (2021), Almeida (2021, 2023) e Almeida e Moraes (2024), entre outros. Com o intuito de compreender significados, motivos, crenças e valores relacionados à aquisição da língua inglesa por alunos surdos do ensino fundamental e médio, esta pesquisa é descritiva qualitativa, segundo Triviños (1987). Os resultados apontam para o fato de que ainda há um longo caminho a percorrer para a construção de um sistema educacional que seja, de fato, inclusivo - tanto no sentido das políticas linguísticas e educacionais como das praxeologias -, e que os espaços educacionais devem oferecer acesso e permanência para alunos com deficiência, além de atendimento educacional especializado para complementar ou suplementar a assistência escolar quando necessário.

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Biografia do Autor

  • Matheus Lucas De Almeida, Universidade Estadual do Ceará

    Doutor em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco (2023) e graduado em Letras Português e Inglês (2019) pela mesma instituição, especialista em Metodologia do Ensino de Língua Inglesa pela Faculdade de Educação São Luís (2019), mestre em Linguística e Ensino pela Universidade Federal da Paraíba (2021) e graduado em Letras-Libras pela mesma instituição (2023). Professor assistente do curso de Letras inglês da Universidade Estadual do Ceará. Tem experiência na área de letras, atuando principalmente nos seguintes temas: língua inglesa, bilinguismo, translinguismo, tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), educação de surdos e aquisição de línguas adicionais pela pessoa surda.

  • Antonio Henrique Coutelo de Moraes, Universidade Federal de Rondonópolis, Rondonópolis, MT, Brasil.

    Pós-doutorado em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), supervisionado pela Profa. Dra. Solange Maria de Barros; Doutorado e Mestrado em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP); Graduação em Letras pela UNICAP e em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional. Docente e Coordenador Adjunto do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR). Professor dos Programas de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da UFMT e em Ciências da Linguagem da UNICAP. Professor e Coordenador do curso de Letras - Língua e Literaturas de Língua Inglesa da UFR. Tem experiência nas áreas de Ensino e Línguas Estrangeiras Modernas, atuando principalmente nos seguintes temas: inclusão, aquisição, ensino, língua estrangeira, inglês, surdez.

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Publicado

2025-03-21

Edição

Seção

(v.30, n.66) - Políticas Linguísticas e Ensino de Línguas

Como Citar

Translinguagem, educação (não) inclusiva e políticas linguísticas: reflexões sobre o ensino de inglês no Brasil a partir da perspectiva de duas alunas surdas. (2025). Gragoatá, 30(66), e63033. https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.63033.pt