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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
- Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n.
28, p.28-47, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
A experiência delas no Hip-Hop: uma leitura sobre comunicação e resistência
na Batalha do Som
Thífani Postali
1
Giovanna Hellen Meira Silva
2
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v15i28.65548
Resumo: Tendo em vista que a cultura Hip-Hop é uma ferramenta de comunicação e resistência contra
as diversas opressões sociais, este trabalho tem como objetivo identificar a presença e a participação
das mulheres na Batalha do Som do Santa Bárbara Batalha de rima localizada na cidade de Sorocaba
SP e os discursos que especificam as experiências das mulheres no movimento. Para tanto, faz uso
da teoria da Folkcomunicação para compreender a cultura popular urbana como mecanismo de
comunicação e da etnografia da cidade como metodologia para a coleta e interpretação dos dados
levantados em pesquisa de campo. Como resultados, o trabalho apresenta que a participação das
mulheres ainda é restrita na Batalha do Som. Apesar de se apresentar como um evento respeitoso no
que se refere a participação das mulheres, os dados demonstram que, de modo geral, o formato das
batalhas inibem a participação feminina por serem, em essência, ambientes hostis. Ainda, as
informações coletadas revelam que pouco envolvimento dos homens quando os assuntos envolvem
conteúdos mais profundos, especialmente no que se refere às experiências das mulheres em
sociedade. Por outro lado, ainda que pouca, a participação feminina fortalece a entrada de outras
mulheres que se reconhecem também como sujeitas da resistência.
Palavras-chave: comunicação; resistência; mulheres; Batalha do Som.
Their experience in Hip-Hop: an analysis of communication and resistance in the Santa
Bárbara’s Sound Battle
Abstract: Considering that Hip-Hop culture serves as a tool for communication and resistance against
various social oppressions, this study aims to identify the presence and participation of women in the
Santa Bárbara’s Sound Battle a rap battle located in Sorocaba, SP and to analyze the discourses
that articulate women's experiences within the movement. To this end, it employs the theory of
1
Doutora em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Realiza Estágio de
Pós-doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Docente no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da
Universidade de Sorocaba (UNISO). Líder do grupo de pesquisas em Comunicação Urbana e Práticas
Decoloniais (CNPq- UNISO) e Diretora Científica da Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação
(Folkcom). E-mail: thifanipostali@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0541-7203.
2
Graduanda em Tecnologia em Jogos Digitais pela Universidade de Sorocaba (UNISO). Participante
do grupo de pesquisas em Comunicação Urbana e Práticas Decoloniais (CNPq- UNISO). E-mail:
giovanna.hellenmeira@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-8406-8615.
Recebido em 29/11/2024, aceito para publicação em 20/12/2024.
29
POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Folkommunication to understand urban popular culture as a communication mechanism and utilizes
ethnography of the city as a methodology for the collection and interpretation of data gathered through
field research. The findings indicate that women's participation in the Sound Battle remains limited.
Although it is presented as a respectful event regarding women's involvement, the data demonstrate
that, in general, the format of the battles inhibits female participation, as they are, by nature, hostile
environments. Furthermore, the collected information reveals minimal male engagement when the
topics pertain to deeper issues, particularly in relation to women's experiences in society. Conversely,
albeit limited, female participation strengthens the inclusion of other women who also recognize
themselves as subjects of resistance.
Keywords: communication; resistance; women; Santa Bárbara’s Sound Battle.
La experiencia de las chicas nel Hip-Hop: una lectura sobre comunicación y resistencia en la
Batalla del Sonido de Santa Bárbara
Resumen: Dado que la cultura Hip-Hop es una herramienta de comunicación y resistencia contra
diversas opresiones sociales, este trabajo tiene como objetivo identificar la presencia y participación de
las mujeres en la Batalla del Sonido de Santa Bárbara una batalla de rimas ubicada en la ciudad de
Sorocaba, SP y los discursos que especifican las experiencias de las mujeres en el movimiento. Para
ello, se utiliza la teoría de la Folkcomunicación para comprender la cultura popular urbana como un
mecanismo de comunicación y se emplea la etnografía de la ciudad como metodología para la
recolección e interpretación de los datos obtenidos en la investigación de campo. El trabajo presenta
que la participación de las mujeres sigue siendo restringida en la Batalla del Sonido. A pesar de que se
presenta como un evento respetuoso en cuanto a la participación de las mujeres, los datos demuestran
que, en general, el formato de las batallas inhibe la participación femenina, ya que son, en esencia,
ambientes hostiles. Además, la información recopilada revela que hay poco involucramiento de los
hombres cuando los temas abordan contenidos más profundos, especialmente en lo que se refiere a
las experiencias de las mujeres en la sociedad. Por otro lado, aunque limitada, la participación femenina
fortalece la entrada de otras mujeres que también se reconocen como sujetas de la resistencia.
Palabras clave: comunicación; resistencia; mujeres; Batalla del Sonido de Santa Bárbara.
A experiência delas no Hip-Hop: uma leitura sobre comunicação e resistência
na Batalha do Som
Introdução
Afrika Bambaataa, fundador do
Hip-Hop, sugeriu que durante a
ascensão desse movimento em Nova
York, Estados Unidos, nos anos 1970,
os participantes deixassem os conflitos
de gangues e a violência recorrente
produzida por esses episódios por
intermédio do Hip-Hop e seus quatro
elementos: DJ, MC, break e grafite
(Teperman, 2015). Tendo em vista o
uso do Hip-Hop para promover o que
Bambaataa chamou de negatividade,
ou seja, o uso das práticas artísticas
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leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
para promover o contrário da intenção
do movimento, Bambaataa criou o
quinto elemento que é o
“conhecimento”. De acordo com Postali
(2011), o conhecimento se refere ao
uso dos elementos para a promoção da
conscientização social e resistência
aos problemas enfrentados pelas
pessoas periféricas.
Assim, o Hip-Hop tornou-se um
movimento cultural mundial que tem
como característica a denúncia, através
de seus elementos, de temas político-
sociais como o caos presente nas
periferias, a violência policial, o racismo
e o machismo, e também apresenta
assuntos como ostentação e dinheiro
na busca por uma vida mais digna, com
menos desigualdade (Lima, 2019).
Segundo Gomes (2019), com a
chegada do Hip-Hop no Brasil, em
meados da década de 1980, as
batalhas de rima também ganharam
popularidade com os movimentos
culturais periféricos que formaram a
capacidade singular de criar
tecnologias sociais, como as próprias
batalhas de rima, para preencherem os
vazios deixados pela desigualdade
social. As batalhas de rima tratam-se
do enfrentamento entre jovens por meio
de rimas criadas na hora, com tempo e
ritmo determinados. Vence a/o MC que
melhor agradar os jurados ou o público.
De acordo com Cura (2019) as rodas
culturais, denominadas batalhas de
rima, ocuparam espaços públicos em
busca de sua revitalização,
ressignificando esses lugares em prol
das artes de rua contempladas no Hip-
Hop.
Ao ocuparem espaços blicos
urbanos, as Batalhas fazem com que o
Hip-Hop se fortaleça como um
movimento social onde os coletivos
urbanos agem na vida das pessoas,
geralmente jovens, sendo um
instrumento sociocultural para o
desenvolvimento de suas identidades e
pensamentos políticos (Gomes, 2019).
Cabe ressaltar que os temas
mudam conforme os grupos sociais.
Mulheres periféricas, por exemplo,
abordam com mais frequência suas
experiências sociais, havendo nos
conteúdos maior frequência de
assuntos relacionados às inúmeras
violências que essas mulheres sofrem
nos espaços urbanos. Assim, tendo em
vista que a cultura Hip-Hop é uma
ferramenta de comunicação e
resistência contra as diversas
opressões sociais, este trabalho tem
como objetivo identificar a presença e a
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leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
participação das mulheres na Batalha
do Som do Santa Bárbara batalha de
rima realizada na cidade de Sorocaba
SP, e os discursos que especificam as
experiências das mulheres no
movimento. Para tanto, faz uso da
teoria da Folkcomunicação (Beltrão,
1980) para compreender a cultura
popular urbana como mecanismo de
comunicação, e da etnografia na cidade
(Magnani, 2002) como metodologia
para a coleta e interpretação dos dados
levantados em pesquisa de campo. A
pesquisa envolveu a presença e
participação de três edições da Batalha
do Som, ocorridas nos dias 16, 17 e 18
de novembro de 2024. Além da
observação do evento e anotações em
diário de campo, houve coleta de dados
em formato de fotografia e vídeo, e
foram aplicadas entrevistas
semiestruturadas com quatro mulheres
presentes nas edições, com termo de
assentimento e uso de imagem
assinado por cada participante da
pesquisa. Também houve entrevista
com um dos organizadores do evento.
Por este artigo estar vinculado ao
projeto de Pesquisa “As experiências
delas na cidade: práticas culturais e
comunicações das mulheres periféricas
e do Hip-Hop de Sorocaba”, vinculado
ao Centro de Ciências Humanas e
Biológicas da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), informa-se que a
coleta de dados foi aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade de Sorocaba (UNISO),
sob parecer 7.078.071, na Reunião do
Colegiado CEP UNISO, no dia 16 de
setembro de 2024.
Como resultado, o trabalho
apresenta que a participação das
mulheres ainda é restrita na Batalha do
Som. Apesar de se apresentar como
um evento respeitoso no que se refere
à participação das mulheres, os dados
demonstram que, de modo geral, o
formato das batalhas inibe a
participação feminina por serem, por
essência, ambientes hostis ao público
feminino. Ainda, as informações
coletadas revelam que pouco
envolvimento dos homens quando os
assuntos citam conteúdos mais
profundos, especialmente no que se
refere às experiências das mulheres
em sociedade. Por outro lado, ainda
que pouca, a participação feminina
incentiva a entrada e fortalece a
permanência de outras mulheres que
se reconhecem também como sujeitas
da resistência.
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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transformações da cultura")
Batalha de rima: a comunicação dos
grupos urbanos marginalizados
Conforme Cura (2019), as
batalhas de rima são eventos
organizados por jovens periféricos, em
que pessoas se enfrentam por meio da
rima criada no mesmo momento.
Geralmente, as batalhas possuem dois
mestres de cerimônias (MC’s), cada um
alternando entre rounds de 30 a 45
segundos, tempo em que apresentam
seu improviso sobre uma batida de DJ,
ou de um beatbox
3
realizado no
momento. Por intermédio de um
apresentador, o júri e/ou o público
decide o vencedor da batalha após o
término das apresentações, que podem
perdurar mais que os usuais dois
rounds, através do barulho produzido
pela plateia, ou seja, o som mais alto irá
determinar o ganhador.
dois tipos de batalha: a
batalha de sangue, onde os MC’s
atacam diretamente seu adversário
sendo permitido o chamado esculacho.
Esse tipo alcança maior prestígio e
visibilidade devido ao seu caráter
apelativo. Entretanto, segundo Cura
(2019), o MC deve conhecer o público
3
beatbox é um tipo de batida musical orgânica;
feita com a boca. Ela serve como base para a
em que está se apresentando, uma vez
que as batalhas de sangue podem
conter rimas com teores racistas,
xenofóbicos, machistas e
LGBTQfóbicos.
a batalha de conhecimento
surgiu no Brasil com a proposta de MC
Marechal, de trocar o esculacho pela
reflexão. Nelas, os MC’s devem formar
suas rimas a partir de um tema
previamente escolhido através de
uma imagem, um filme, ou algum outro
conteúdo que possibilite a troca de
ideais e, através da batalha, promover
um debate sobre o assunto proposto,
exigindo que a pessoa demonstre seu
conhecimento sobre o tema (Alves,
2013).
Segundo Teperman (2015), a
batalha do conhecimento está atrelada
ao quinto elemento do Hip-Hop,
instituído por Afrika Bambaataa como o
“conhecimento”, que é o contraponto do
rap, compreendido apenas como
entretenimento e mercadoria. Com o
conhecimento, Bambaataa defende a
ideia de que um membro do movimento
deve ter consciência de sua localização
social para que possa, através dos
fluência da música, ditando o ritmo do rap
(Campos, 2020)
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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transformações da cultura")
elementos culturais, conscientizar os
jovens periféricos e difundir o lema do
movimento que é “Paz, amor, união e
diversão” (Postali, 2011). A partir desse
momento, o Hip-Hop passa a ser
compreendido como um movimento
cultural cujo objetivo é, além do
entretenimento, conscientizar as
pessoas que se encontram às margens
da sociedade, especialmente pessoas
as negras, uma vez que o Hip-Hop é
criado e em maioria praticado por
pessoas negras que lutam contra o
racismo estrutural (Oliveira, 2021).
Deste modo, segundo Alves (2013), os
pilares do Hip-Hop envolvem a difusão
das experiências dos grupos reprimidos
culturalmente, a transformação e
inclusão dos jovens em coletivos não
violentos, a formação e
desenvolvimento humano e social, a
promoção da autoestima de seus
membros e sua valorização.
O Hip-Hop, portanto, aqui é
tratado como uma potente ferramenta
de comunicação dos grupos urbanos
marginalizados (Postali, 2011). Para
essa assertiva, apoiamo-nos na teoria
da Folkcomunicação, que se debruçou
em compreender como a comunicação
se por meio de comunicadores e
canais o dominantes. Sendo uma
teoria genuinamente brasileira e
defendida por Luiz Beltrão, a
Folkcomunicação se trata do estudo
sobre “o conjunto de procedimentos de
intercâmbio de informações, ideias,
opiniões e atitudes dos públicos
marginalizados urbanos e rurais,
através de agentes e meios direta ou
indiretamente ligados ao folclore”
(Beltrão, 1980, p. 24). Para este
trabalho, interessam as produções e
conteúdos relacionados aos grupos
urbanos e culturalmente
marginalizados que segundo Beltrão
(1980), são os indivíduos excluídos
pelas camadas mais altas da sociedade
e que integram as classes carentes de
assistência social, de acesso facilitado
à informação e condições de acesso no
geral. os culturalmente
marginalizados, podem ser urbanos ou
rurais, e o que os define é a atitude em
questionar e abalar a estrutura social
vigente.
Desta forma, o Hip-Hop é uma
ferramenta de comunicação e não só
que questiona e abala as estruturas
sociais, por meio de mensagens que
desvelam as desigualdades sociais e
as violências experienciadas por
pessoas marginalizadas, além de
apresentar outras formas de viver,
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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transformações da cultura")
pensar e agir. Assim, as pessoas que
produzem e difundem as informações
por meio do Hip-Hop, podem ser
assimiladas as pessoas líderes-
comunicadoras folk, ou comunicadoras
de folk, que segundo Beltrão, são “[...]
agentes formadores de opinião que, a
partir das mensagens possibilitadas
pelos meios de comunicação de
massa, decodifica-as transformando
em outros códigos capazes de serem
compreendidos pelo público ao qual
pretendem comunicar” (Beltrão, 1980,
p. 58).
No Hip-Hop, o público ao qual as
pessoas comunicadoras de folk dirigem
sua comunicação são os grupos
marginalizados que segundo Perlmann
(1977), são “os pobres em geral,
desempregados, migrantes, membros
de outras subculturas, minorias raciais
e étnicas e transviados de qualquer
espécie”, ou seja, as pessoas que mais
são impactadas pelo projeto colonial
que segundo Kilomba (2019, p. 47), são
atravessadas pelas estruturas de
opressão que “[...] não permitem que as
suas vozes sejam escutadas,
tampouco proporciona um espaço para
articulação das mesmas”. A autora
ainda lembra que
A boca é um órgão muito
especial. Ela simboliza a fala e
a enunciação. No âmbito do
racismo, a boca se torna o
órgão da opressão por
excelência, representando o
que as/os brancas/os querem
e precisam controlar e,
consequentemente o órgão
que, historicamente, tem sido
severamente censurado
(Kilomba, 2019, p. 34).
Nesse cenário, as batalhas de
rima são organizadas, principalmente,
pelos grupos culturalmente
marginalizados que buscam oferecer
um espaço para ampliar as vozes das
pessoas que vem sendo,
historicamente, censuradas. Outro
ponto que merece destaque é que por
ser uma manifestação que prioriza o
discurso de resistência frente a
sociedade segregada, os eventos
tornaram-se exclusivos em cada lugar e
refletem as experiências também
localizadas, sejam socialmente e/ou
geograficamente (Postali, 2024).
Assim, para compreendermos
as mulheres que participam da Batalha
do Som, buscamos, antes, informações
e dados que refletem as situações
enfrentadas pelas mulheres periféricas
brasileiras.
Mulheres na sociedade e no Hip-Hop
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
De acordo com o mapa da
Violência Contra as Mulheres (2024),
pelo menos 48.289 mulheres foram
mortas na última década (2012 2022)
e de 2021 para 2022, não houve
melhora no índice, permanecendo no
patamar de 3,5 mortes para cada 100
mil mulheres brasileiras. Quando
recortamos as pesquisas para a
situação das mulheres negras
brasileiras, o mapa da Violência Contra
as Mulheres (2024) apresenta
situações ainda mais alarmantes. Em
2022 foram registradas 3.806 vítimas
de feminicídio no Brasil, sendo 2.526
desses casos de mulheres negras, ou
seja, 66,4% (Cerqueira; Bueno, 2024).
Como lembra Ribeiro (2017), é
como se as mulheres negras
possuíssem o dobro de chance de
serem assassinadas quando
comparadas às mulheres brancas. A
autora ressalta que essa discrepância
mostra a falta de um olhar étnico racial
daqueles que possuem os meios e a
voz para realizarem políticas que
impactem a vida das mulheres negras.
É necessário entendermos
então que quando essas mulheres
estão reivindicando e criando seus
lugares em batalhas de rima, também
estão lutando pelo direito à própria vida
(Ribeiro, 2017). Por essa arte servir
para que pessoas marginalizadas
possam contar sobre suas experiências
e vivências, ela deve ser um lugar
seguro para as mulheres e outros
grupos silenciados. Tem-se que o Hip-
Hop é um movimento cultural artístico
que busca representar e acolher,
independente de gênero, pessoas
marginalizadas e oprimidas
sobretudo negras (Lima, 2019).
Entretanto, ainda barreiras de
preconceitos que atravessam até
mesmo essa arte.
Em setembro de 2024, ao
pesquisar por “batalha de rima no
periódico da CAPES, em todas as
áreas disponíveis no site, mais de 200
resultados foram encontrados, o que
evidencia o interesse acadêmico por
essa prática social. Entretanto, ao
buscarmos por “batalhas de rima” e
qualquer outra categoria que possa
englobar a representatividade feminina
como “mulher (es)”, ”feminismo”,
“feminista”, houve apenas um
resultado. Os recortes sobre as
mulheres aparecem mais em pesquisa
via ferramenta Google Acadêmico e
estão em revistas científicas indexadas.
No geral, os trabalhos apresentam a
pouca participação das mulheres ou
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
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transformações da cultura")
situações em que as mulheres criam
seus próprios espaços para batalhar.
No livro Rio de Rimas, de Rossi
Alves (2013), ao abordar sobre as
batalhas de rima no Rio de Janeiro, é
comparável a falta de visibilidade
feminina tanto nos artigos acadêmicos
pesquisados, quanto nas próprias
batalhas de rima. Para a autora, muitas
vezes ocorrem rimas machistas e as
mulheres ficam restritas à plateia, com
raríssimas participações no palco.
Alves destaca que, em mais de um ano
de pesquisa, viu mulheres rimando em
dois ou três encontros, o que revela que
a batalha de rima é um espaço a ser
conquistado pelas mulheres.
Em “Elas na Batalha: Um
Levantamento Sobre o Gênero Musical
Rap e a Presença de Mulheres Neste
Movimento”, os autores Medeiros e
Silva (2018) entrevistaram em 2017
duas rappers mulheres, de 20 e 24
anos, residentes em Volta Redonda/RJ
Brasil, que relataram terem
participado de batalhas de rima. Ambas
contam que, ao se depararem com as
rodas de rima, encontraram apenas
rappers homens batalhando.
unanimidade em suas respostas sobre
o fato de que o sexismo ocorre no
movimento de minorias, mas como
reflexo de uma sociedade
preconceituosa patriarcal.
em 2020, Marques e Fonseca
(2020) investigaram “Os Territórios das
Mulheres Negras no rap por Meio das
Batalhas de Rima” em Londrina/PR
Brasil, onde 11 mulheres negras, entre
19 e 25 anos, e de perfis variados,
cederam suas entrevistas. Essas
mulheres contaram sobre o medo da
rejeição que possuem sobre esses
espaços, uma vez que as batalhas são
predominantemente masculinas e
possuem conteúdos machistas. As
autoras, através dos relatos coletados,
apresentam que, pela falta de mulheres
nos encontros, não houve rima por
parte delas.
O artigo “Mulheres no Hip-Hop: a
Batalha Feminina de Rimas `Na Caneta
ou no Batom`” de Siqueira (2021),
analisa entrevistas realizadas em 2019,
com três mulheres do movimento Hip-
Hop de São José dos Campos/SP
Brasil. As participantes contam que
seus trabalhos são julgados de forma
diferente pelos homens, por sentirem
que, o tempo todo, precisam mostrar a
eles que são merecedoras de
ocuparem o mesmo espaço, além do
menor retorno monetário. Devido ao
preconceito, essas mulheres criaram o
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transformações da cultura")
coletivo de batalhas “Na Caneta ou no
Batom”, para que outras mulheres
pudessem ter um espaço seguro para
expressar sua arte.
Postali e Nicoletti (2023), em
Batalha Beco das Mina:
Representatividade no Circuito do Hip-
Hop de Sorocaba”, entrevistaram, em
2022, a fundadora do coletivo. A
fundadora conta que, na falta de um
espaço seguro e sem o esculacho das
batalhas de sangue, decidiu criar o
evento para que as mulheres aqui,
majoritariamente negras e
LGBTQIAPN+ pudessem batalhar
sem ofensas verbais e que todas as
jovens interessadas em rima pudessem
se sentir acolhidas.
Assim, ao analisar o os
resultados dos artigos que abordam a
relação das mulheres com as batalhas
de rima, é possível notar a semelhança
entre as falas das entrevistadas: o
medo do julgamento masculino e a falta
de espaço, algo que transcende o
movimento Hip-Hop, uma vez que
espelha o modelo social patriarcal.
Siqueira lembra que:
Apesar de ser uma
manifestação cultural que
possui um caráter
revolucionário que denuncia as
opressões sofridas pelas
populações periféricas, negras
e de classe baixa, os
integrantes da cultura ainda
reproduzem valores sociais
machistas presentes na atual
ordem social estabelecida,
oprimindo as mulheres que
pertencem à cena,
inviabilizando-as e não dando
as mesmas oportunidades para
que elas produzam seus
trabalhos. (Siqueira, 2021, p.
14)
As mulheres, ao reivindicarem
seu lugar nesse espaço dominado por
homens, estão se opondo ao sistema
machista. Trata-se de um espaço que
privilegia o uso da linguagem para
discursar sobre as experiências sociais
dos grupos. Como coloca Ribeiro
(2017), o uso da linguagem como uma
barreira de poder é utilizado por grupos
sociais privilegiados para evitar o
compartilhamento das experiências das
minorias que precisam e querem ser
ouvidas. Assim, as rodas de rimas são
locais onde as mulheres e outros
grupos silenciados podem reivindicar o
direito de terem suas vozes ouvidas e
ampliadas.
Para conseguirem essa posição,
muitas mulheres se apoiam, impondo-
se e organizando-se.
A experiência delas na Batalha do
Som
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transformações da cultura")
Tendo em vista a informação de
que a Batalha do Som, uma batalha de
rima realizada no bairro de Santa
Bárbara localizado na cidade de
Sorocaba SP, Brasil, acolhe mulheres
em suas edições, o trabalho buscou
responder como essas mulheres
participam desse evento e quais são
suas visões a respeito da participação
das mulheres nos eventos de Hip-Hop,
de modo geral. Assim, como
metodologia, utilizou da etnografia
urbana, a partir de Magnani (2002). A
abordagem do autor consiste na
observação das dinâmicas sociais, a
partir de um olhar denominado “de
perto e de dentro”, que permite
identificar padrões e práticas cotidianas
que escapam de uma visão generalista
e fragmentada.
A pesquisa de campo foi
realizada em 3 edições da Batalha do
Som, sendo nos dias 16, 17 e 18 de
novembro, das 19h às 22h. Como
técnicas para coleta de dados foram
realizadas entrevistas
semiestruturadas com as participantes,
anotações em diário de campo e
registro de imagens no formato de
fotografia e audiovisual com termo de
assentimento e uso de imagem
assinado por cada participante da
pesquisa. Os nomes das pessoas
entrevistadas estão ocultados por
motivo de sigilo. Para este trabalho,
foram entrevistadas 5 pessoas, sendo
Açucena (colaboradora na organização
do evento), Camélia (MC), Margarida
(ex. organizadora de batalha e
namorada de um participante), Lírio
(acompanha o movimento Hip-Hop e
namorada de um participante) e
organizadora.
Os encontros da Batalha do Som
ocorrem no Jardim Santa Bárbara, no
Parque Miguel Gregório de Oliveira.
Infelizmente, o parque não está
nomeado nos softwares de localização,
então, caso alguém queira comparecer
ao local, a pesquisa em softwares deve
incluir “parque do Jardim Santa
Bárbara” ou o endereço do
Supermercado que fica na frente do
parque, que se localiza na Rua Doutor
Américo Figueiredo, no bairro lio de
Mesquita Filho.
A Batalha do Som teve início em
outubro de 2023 e, em novembro de
2024, houve um evento para a
comemoração do aniversário de um
ano do encontro. Ela é realizada às
segundas-feiras, a partir das 19h,
mesmo com a escolha do dia sendo
pouco convencional, ainda possui
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
- Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n.
28, p.28-47, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
público o suficiente para realizar as
chaves das batalhas. Isso ocorre
porque muitos dos participantes
trabalham em outros dias da semana e
aos finais de semana. Esse é o caso da
Margarida, que conta que devido ao
seu trabalho, é a única batalha que
consegue frequentar, mesmo
expressando desejo em poder estar
presente mais frequentemente em
outras batalhas de Sorocaba. Por outro
lado, a localização da Batalha dificulta
o acesso de muitos jovens que vivem
em outros bairros periféricos da cidade
de Sorocaba. Esse é o caso da
Açucena, uma jovem estudante e uma
das atuais organizadoras e
frequentadoras que indicou que o local
é mais distante e que o dia da
realização torna mais difícil o acesso.
No que se refere ao formato da
batalha, são batalhas de sangue,
apesar de os organizadores buscarem
incluir conteúdos como livros e revistas
para que ocorram batalhas do
conhecimento. O material fica exposto
ao lado da caixa de som, em uma mesa
separada, para que as pessoas
possam ler, e inclusive, retirar para
leitura. A maior parte dos livros possui
temática de resistência, incluindo
autores e artistas negros. Ao ser
questionada sobre o motivo da mesa,
Margarida ressalta que é “Para trazer
conhecimento, que as pessoas
consigam entender melhor as coisas. É
um movimento, né? Vo trazer o
conhecimento também é um
movimento”.
Figura 1 Mesa com livros
Fonte: Elaboração própria
Em entrevista, um dos
organizadores (Organizador A) da
Batalha do Som disse que o seu
idealizador é uma pessoa “genuína e
incrível”, do mesmo modo que as
mulheres entrevistadas teceram
elogios e apresentaram o acolhimento
propiciado por ele.
Sobre as diferenças entre a
participação das mulheres na Batalha
do Som em relação às outras batalhas
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
- Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n.
28, p.28-47, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
de Sorocaba, ucena e Margarida
relatam que durante um ano de
frequência no evento, viram apenas
duas mulheres rimando na Batalha do
Som, enquanto em outras batalhas
como a do Extremo Leste (não mais
existente) e a Batalha das Capivaras
(realizada na cidade de Votorantim),
existe maior presença de mulheres
4
.
Por outro lado, ao questionarmos sobre
a participação das mulheres nas
batalhas de modo geral, as pessoas
entrevistadas concordam ao dizer que
as mulheres estão mais presentes
como público do que como rappers
freestyles. Organizador A, diz sentir
que a participação feminina no Rap
(geral) é muito grande e fomentada,
mas isso não ocorre nas batalhas de
rima da Batalha do Som, sendo elas
“Forte na plateia, 100%. [...] Agora, em
questão de participação da batalha, eu
coloco hoje como um quatro de dez,
muito triste eu falar isso”. Apesar de as
pesquisas mostrarem que a
participação das mulheres é pouca, no
que se refere ao movimento Hip-Hop de
4
A presença de mulheres muda de acordo com
cada batalha. Entretanto, o estado da questão
apresenta que a participação das mulheres, de
modo geral, é bastante restrita em todo o Brasil.
Uma pesquisa realizada por um(a) dos(as)
autores(as) deste trabalho, durante o ano de
2023-2024, sobre outra batalha realizada na...
modo geral, cada experiência será
única. O Organizador A, por exemplo,
iniciou o seu contato com batalha de
rima em uma cidade pequena
interiorana, sendo o evento
predominantemente feminino.
Com relação a presença das
mulheres na batalha do Som foco
deste trabalho as três mulheres
entrevistadas na edição do dia 18 de
novembro de 2024 expressaram não
ter desconforto ou medo de se
deslocarem para o local, mesmo
ocorrendo no período noturno.
Sobre a integração de mulheres
na batalha, Açucena destaca que as
mulheres têm maior acesso quando se
relacionam com os homens envolvidos
com o evento e que, no início, sentiu
desconforto: “Eu sinto que as mulheres
são acolhidas quando os homens
conhecem elas. ‘Ah, tem a Maria,
namorada de não sei quem’; ‘Ah, tem a
Joana, que é namorada de não sei
quem’. Então, as pessoas acolhiam
quem estava próximo deles ali [...].
Para mim foi muito difícil, por causa de
...mesma cidade, apresentou que a
participação das mulheres é mínima. Por
motivos de identificação, os dados serão
incluídos no caso de este trabalho ser
aprovado.
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
- Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n.
28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
que eu não tinha ninguém que me
conhecia assim [...]. Quando
começaram a me conhecer por conta
do meu namorado: ‘Ah, ela é
namorada de tal pessoa’, e
acabaram me taxando como isso,
sabe? Eu me senti desconfortável em
relação a isso, mas acabei me
acostumando”.
Essa situação ficou evidenciada
quando três das quatro mulheres
entrevistadas revelaram serem
namoradas de algum participante ou
organizador de alguma batalha.
Com relação a participação
como MC’s nas batalhas, fatores como
vergonha, timidez e medo foram
trazidos pelas entrevistadas nas
edições de 16 e 18 de novembro de
2024. Açucena acredita que a falta de
mulheres está relacionada, também, ao
pouco acolhimento por parte dos
homens: “[...] é porque às vezes elas
começam da mesma forma que eu,
começa ali para assistir e não
conhece ninguém dali. Elas têm essa
vontade de rimar. que, por não
terem esse acolhimento acabam
desistindo”. Complementando a fala de
Açucena, Margarida traz o medo das
mulheres por estarem em um lugar
onde a voz predominante é masculina.
Quando perguntadas sobre os
fatores pessoais que levariam as
mulheres a não participarem com mais
frequência das batalhas de sangue,
todas as entrevistadas mencionaram
que pode estar relacionado às
dificuldades que uma mulher enfrenta
no seu cotidiano e que frequentar uma
batalha de sangue é aumentar a
violência ocorrida no dia-a-dia, no
que diz respeito ao silenciamento,
esculacho, objetificação do corpo
feminino, questionamento sobre a
capacidade intelectual, entre outras
situações comuns em uma sociedade
pautada pelo machismo. Nas palavras
de Camélia, “A gente vem assim, de
uma vida mais complicada, mais
sofrida. E você escuta muita coisa
durante seu dia, seu cotidiano é isso”.
Do mesmo modo, Açucena ressalta
que quando a mulher vai enfrentar um
homem “eles não têm esse filtro que
talvez uma mulher teria”.
Sobre esse aspecto, as
entrevistadas também entram em
acordo sobre a não diferença de
tratamento dos homens em relação às
mulheres durante as batalhas. Para as
entrevistadas, eles as enfrentam como
enfrentam os seus pares. De acordo
com Açucena eles estão
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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transformações da cultura")
acostumados com batalhas de
agressão, esculacho, não tendo tato
para enfrentar as mulheres que
trazem problemas de seu cotidiano.
Açucena lembra que esse é um reflexo
da própria sociedade.
Com relação ao conteúdo das
rimas, três das entrevistadas disseram
haver diferenças consideráveis entre os
temas com relação aos gêneros.
Segundo Margarida, a mulher prefere
“trazer uma ideologia e conhecimento,
ao invés de apenas ofender”. Do
mesmo modo, Lírio ressalta que
“Enquanto a mulher quer passar a
visão, os homens sempre estão nessa
de atacar. Então você não uma
construção na rima deles do jeito que
você na rima de uma mulher. que
o público não entende dessa forma. A
gente é mulher, entende o que elas
estão querendo passar, a visão que
elas querem passar, mas o público em
si e os próprios MC’s, acabam não
compreendendo muito bem o que está
sendo dito ali. E acredito que por mais
que tenha o espaço, isso acaba
deixando a mulher num lugar que o é
tão legal dentro da batalha.
Importa esclarecer que os dados
coletados apontam que homens
também trazem problemas
majoritariamente sofridos por mulheres.
Durante uma das batalhas do dia 16 de
novembro de 2024, um dos MC’s citou
o caso Marielle Franco em sua rima: “O
tiro nunca nos salvou, o tiro matou
Marielle”. Todavia, cabe ressaltar que
essa foi a única referência sobre mulher
na batalha. Ao ser questionado sobre a
presença da mulher nas rimas
masculinas, o Organizador A disse que
a mulher quase sempre aparece com
respeito, se referindo a figura da mãe
como “rainha”. Cabe ressaltar que essa
situação foi constatada em outra
pesquisa realizada por uma das
autoras deste trabalho (Postali;
Tenório, 2025). Nesse dia, Camélia
participou como membro do júri da
batalha e um dos apresentadores
estava vestindo uma camiseta com a
imagem de uma mulher negra com
turbante.
Na Batalha do dia 17 de
novembro de 2024 houve a
participação de uma mulher
representante da Batalha das
Capivaras. Nessa batalha, não houve
constatação de ofensas referentes à
figura da mulher.
Para além da participação das
mulheres como organizadoras, MC’s e
plateia, importa compreender a batalha
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
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28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
como um espaço para conhecimento e
reconhecimento de pertencimento a um
determinado grupo social, no caso, os
grupos urbanos marginalizados,
independentemente de gênero.
Segundo Açucena, as batalhas, de
modo geral, a ajudaram a compreender
suas experiências e a se descobrir
como mulher negra: [...] eu sempre fui
uma pessoa que foi muito cercada por
pessoas brancas, pessoas ricas.
Falavam que eu era branca demais,
tem gente que falava que eu era preta,
tinha gente que falava que eu era
parda. Essas pessoas queriam me
rotular. E eu acho muito bom ficar
ouvindo durante as batalhas também,
ou conversando por fora com os MC’s,
assim eles contando um pouco da
história deles, de onde eles vieram, as
coisas que eles passaram. Faz eu me
entender melhor ver eles se
entendendo. Faz eu aprender a me
entender melhor como pessoa.
De modo geral, as participantes
compreendem as batalhas de rima
como um local para expressão e
“desabafo”. Segundo Camélia e
Margarida, trata-se de um momento em
que a pessoa pode discursar sobre as
situações que afetam diretamente as
pessoas periféricas, mas também é um
momento de agradecer e expressar
outros assuntos. Sobre esse aspecto,
Lírio reforça a frase que é comum em
todos os elementos do Hip-Hop. A
batalha, para ela, é “um movimento que
salva vidas”.
“Quem está aqui dentro é quem
vivencia a periferia do jeito que ela é.
Muitos MC’s que estão dentro da
batalha veem isso como algo que vai
ser profissional, que vai crescer, que
vai para outro lugar e ter oportunidade.
Então eu acho que batalha é um bote
salva vidas para muitas pessoas.
Por outro lado, bastante
dificuldade em manter um evento ativo
ou até mesmo seus participantes
frequentes. Isso ocorre porque as
batalhas são organizadas pela própria
comunidade em locais, na maioria dos
casos, periféricos e sem incentivo de
instituições públicas ou privadas.
Segundo Camélia, “A gente acaba
perdendo a motivação por ser um
movimento um pouco difícil de se
trabalhar nele, de estar nele de
diversas formas; falta patrocínio, falta
ajuda de diversas formas. E a gente
acaba se dispersando. A gente precisa
de comida, precisa de um teto, precisa
trabalhar. Então a gente acaba
dispersando para outros caminhos”.
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
leitura sobre comunicação e resistência na Batalha do Som. PragMATIZES
- Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n.
28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
É importante salientar que uma
das queixas dos participantes e
organizadores de eventos artísticos
periféricos de Sorocaba, é o descaso
do poder público sobre essas
iniciativas, privilegiando eventos
destinados a outros públicos e
organizados em regiões privilegiadas
da cidade. Parte desta pesquisa foi
realizada no evento da Semana do Hip-
Hop de Sorocaba que é parte da lei
municipal 7359/2005 que determina a
realização de shows, oficinas, debates
e atos públicos pela promoção da
inclusão cultural e social. Entretanto, o
local destinado ao evento é o Parque
dos Espanhóis, localizado em um lugar
de difícil acesso às pessoas que
participam e acompanham o
movimento Hip-Hop. No geral, essas
pessoas estão localizadas nas zonas
Norte e Oeste de Sorocaba, sendo o
Parque dos Espanhóis localizado na
Vila Assis, zona Leste. O próprio nome
do Parque revela que ali é uma região
habitada, especialmente, por
descendentes de espanhóis, o que não
reflete a realidade da maioria dos
participantes do movimento Hip-Hop de
Sorocaba.
Figura 2: Trajeto via ônibus Jardim Santa
Bárbara para Parque dos Espanhóis
Fonte: Google Maps
O trajeto de bairros como
Parque São Bento, Habiteto, Santa
Bárbara e Paineiras para citar alguns
que têm forte relação com o movimento
Hip-Hop é longo e custoso. O
percurso médio desses bairros para o
Parque dos Espanhóis é de 1h por
transporte público (ônibus). A
locomoção por carro leva 40 minutos e,
um Uber custa, em média, 20 reais.
Talvez por esses motivos o evento se
mostrou esvaziado nos dois dias de
atividades no parque.
Considerações finais
As batalhas de rima são espaços
de comunicação e troca de experiência
de jovens periféricos que fazem parte
do grupo urbano culturalmente
marginalizado, pois trazem em suas
artes informações e opiniões sobre a
vida na urbe. Os (as) organizadores
(as) são agentes folkcomunicacionais,
pois possibilitam que o encontro
aconteça, mesmo com todos os
empecilhos encontrados. As
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
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28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
comunicações são produzidas por meio
de linguagem popular e em formato e
canais em que a audiência se
reconhece, o que facilita a
compreensão e identificação com o
conteúdo, como a participante
Açucena, uma jovem de 19 anos,
colocou.
No que se refere às experiências
das mulheres na Batalha do Som, foi
possível observar situações comuns e
que refletem dificuldades não restritas
ao movimento Hip-Hop: da falta de
incentivo à arte urbana e periférica, de
modo geral, às dificuldades
encontradas pelas mulheres em
participar de um movimento que apesar
de oferecer espaço para que pessoas
periféricas possam se expressar, o
evento apresenta uma estrutura que
reproduz a dificuldade para as
mulheres acessarem determinados
espaços.
Dentre os achados, o trabalho se
diferencia de outros encontrados no
estado da questão ao levantar que para
além da dificuldade de se sentirem
acolhidas nas batalhas de rima, as
mulheres apresentam temas de
relevância social e que refletem suas
experiências na cidade, temas que não
são aceitos pelos homens que
preferem mudar o assunto e partir,
muitas vezes, para o esculacho, como
apresentou uma das entrevistadas.
Essa situação reflete o silenciamento
das mulheres sobre as questões que
atravessam o seu cotidiano, fazendo da
batalha um espelho de suas
experiências na cidade.
Ainda que haja a intenção e o
desejo dos organizadores de que mais
mulheres batalhem, essas situações
impedem que mulheres se sintam à
vontade para participar de forma ativa e
resistiva dos encontros. Talvez esse
seja o motivo de se encontrar mais
mulheres em evento de slam, formato
em que as pessoas levam suas poesias
prontas e não se enfrentam com a
possibilidade do esculacho. Importa
ressaltar que estamos pesquisando um
slam organizado na mesma cidade
para detectar as diferenças com
relação a batalha de rima.
Entendemos que a Batalha do
Som, diferente de outras, tem se
esforçado para alinhar-se mais à
batalha do conhecimento, ao incluir
livros, artes e estímulo ao debate
acerca de questões sociais. Por outro
lado, a batalha do conhecimento é
possível mediante regras que
determinem que algum assunto deve
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POSTALI, Thífani; SILVA, Giovanna. A experiência delas no Hip-Hop: uma
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28, p.28-47, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
ser abordado de forma irrefutável,
seguindo o ideal de MC Marechal e do
elemento do Hip-Hop. Nesse
contexto, acreditamos que a inserção
de questões que envolvem a
experiência das mulheres na sociedade
pode contribuir para promover o
conhecimento sobre elas e assim tornar
o evento mais acolhedor às diversas
mulheres e seus contextos.
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