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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
farol. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.260-281, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Gritos na margem: a revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação
política como farol
Renan da Silva Palácios
1
Jenniffer Simpson dos Santos
2
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v15i28.65562
Resumo: O presente trabalho propõe uma análise dos enunciados emergentes e insurgentes do
movimento Hip-Hop na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, em contraponto aos ideais neoliberais
de compartimentalização social e individualização de experiências outrora coletivas. Tendo como
referência a produção de um documentário sobre o tema, realizado no mesmo período em que esta
pesquisa foi desenvolvida, o foco da análise recai sobre os enunciados de MCs em suas entrevistas,
com o objetivo de compreender a prática da imaginação política na estruturação de discursos de
resistência às normas de vida neoliberais. A análise em questão foi conduzida paralelamente ao
acompanhamento da produção do documentário e à transcrição das entrevistas. O referencial teórico
está ancorado na teoria foucaultiana, enquanto o método utilizado é a Análise do Discurso. A
materialidade linguística dos enunciados, em relação à marginalização e à resistência ativa às normas
sociais e discursivas vigentes, constitui o principal objeto de análise. A partir disso, obteve-se que a
imaginação política se encontra efetivamente presente nos discursos analisados, funcionando não
apenas como uma forma de imaginar um mundo menos injusto, mas também como um chamado à
ação; atuando como um farol que guia os sujeitos marginalizados à resistência, valendo-se da música
e da cultura como ferramentas de subversão e transformação social. A imaginação política expressa
nos discursos das pessoas entrevistadas não é vista apenas como um ideal utópico, mas como uma
realidade concreta, através de práticas cotidianas de artistas e ativistas que compõem o movimento em
Dourados.
Palavras-chave: Hip-Hop; neoliberalismo; imaginação política.
Screams on the margin: the discursive revolt present in Hip-Hop and the political imagination as
a beacon
Abstract: This paper proposes an analysis of the emerging and insurgent statements of the Hip-Hop
movement in the city of Dourados, Mato Grosso do Sul, as a counterpoint to the neoliberal ideals of
social compartmentalization and individualization of once collective experiences. Taking as a reference
1
Graduando em Psicologia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail:
renan.palacioss@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-5607-533X.
2
Doutora em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Professora do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia (PPGPsi) da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande
Dourados (FCH/UFGD). E-mail: jennifersantos@ufgd.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
9323-0045.
Recebido em 03/12/2024, aceito para publicação em 22/12/2024.
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
farol. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
the production of a documentary on the subject, made during the same period in which this research
was carried out, the focus of the analysis is on the MCs' statements in their interviews, with the aim of
understanding the practice of political imagination in structuring discourses of resistance to neoliberal
norms of life. The analysis in question was carried out in parallel with monitoring the production of the
documentary and transcribing the interviews. The theoretical framework is anchored in Foucauldian
theory, while the method used is Discourse Analysis. The linguistic materiality of the statements, in
relation to marginalization and active resistance to current social and discursive norms, constitutes the
main object of analysis. From this, it emerged that the Political Imagination is effectively present in the
discourses analyzed, functioning not only as a way of imagining a more equitable world, but also as a
call to action; acting as a beacon that guides marginalized subjects to resistance, using music and
culture as tools for subversion and social transformation. The Political Imagination expressed in the
speeches of the people interviewed is not just seen as a utopian ideal, but as a concrete reality, shaped
by the daily actions of the artists and activists who make up the movement in Dourados.
Keywords: Hip-Hop; neoliberalism; political imagination.
Gritos al margen: la revuelta discursiva presente en el Hip-Hop y la imaginación política como
faro
Resumen: El presente trabajo propone un análisis de las manifestaciones emergentes e insurgentes
del movimiento Hip-Hop en la ciudad de Dourados, Mato Grosso do Sul, en contrapunto a los ideales
neoliberales de compartimentación social e individualización de experiencias que alguna vez fueron
colectivas. Con referencia a la producción de un documental sobre el tema, realizado en el mismo
período en el que se desarrolló esta investigación, el foco del análisis recae en las declaraciones de los
MCs en sus entrevistas, con el objetivo de comprender la práctica de la imaginación política en la
estructuración de discursos de resistencia a las normas de vida neoliberales. El análisis en cuestión se
llevó a cabo en paralelo con el seguimiento de la producción del documental y la transcripción de las
entrevistas. El marco teórico está anclado en la teoría de Foucault, mientras que el método utilizado es
el Análisis del Discurso. La materialidad lingüística de los enunciados, en relación con la marginación
y la resistencia activa a las normas sociales y discursivas vigentes, constituye el principal objeto de
análisis. De todo ello se desprende que la Imaginación Política está efectivamente presente en los
discursos analizados, funcionando no sólo como una forma de imaginar un mundo más equitativo, sino
también como una llamada a la acción; actuando como un faro que guía a los sujetos marginados hacia
la resistencia, utilizando la música y la cultura como herramientas de subversión y transformación
social. La Imaginación Política expresada en los discursos de las personas entrevistadas no se ve sólo
como un ideal utópico, sino como una realidad concreta, moldeada por las acciones cotidianas de los
artistas y activistas que componen el movimiento en Dourados.
Palabras clave: Hip-Hop; neoliberalismo; imaginación política.
Gritos na margem: a revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação
política como farol
E não adianta fingir que não vê
lado
O preconceito é velado
Vê lá do alto do morro qual
corpo vai ser velado, vai ser
favelado
É o pai que perde o filho, é o
dedo no gatilho
É o medo do homicídio, é a
morte a domicílio, é a guerra
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revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
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transformações da cultura")
nos presídios
Carandiru, Alcaçuz, por aqui
se banaliza genocídios
Pergunta pros índios, pergunta
pros índices
Quantas dessas vítimas são
pretas?
Pergunta lá pro IML
Qual é a cor da pele que
colore suas gavetas? Hein?
Rap é tudo o que o sistema
não queria
Tudo o que o sistema não
queria
Rap é tudo o que o sistema
não queria
É o povo armado de poesia
[...]
Fabio Brazza feat. Vulto
Armados de Poesia (2020)
Introdução
Ansiando pela possibilidade de
reinventar o mundo (ou a ideia que
temos dele) através da resistência
coletiva ante ao discurso
contemporâneo de
individualização/compartimentalização
do social, debruçamo-nos sobre um
conceito polimorfo e complexo: a ideia
de imaginação política; o ponto de
convergência entre a revolta discursiva
presente no Hip-Hop e a possibilidade
de um futuro melhor. O entrelace entre
ritmo, revolta e a habilidade de pensar
crítico-criativamente sobre como a
sociedade pode ser (re)organizada,
governada e transformada.
Esse trabalho teve como
objetivo compreender o papel da
imaginação política na estruturação de
discursos de resistência ante aos
vieses de individuação e
compartimentalização do coletivo,
amplamente difundidos dentro no
neoliberalismo, e também a
segregação, violência e preconceitos
advindos da operacionalização desse
discurso. Propõe-se apresentar, nesse
sentido, uma análise sobre o
movimento Hip-Hop na cidade de
Dourados, Mato Grosso do Sul, a partir
da perspectiva da análise do discurso,
como uma forma de resistência ante a
este sistema normativo.
Dessa maneira, propomos aqui
uma experiência diferente daquela que
usualmente reafirma o pensamento e
as práticas hegemônicas, propomos
uma escrita disruptiva, parcial, visceral
e, acima de tudo, política. Ao optar por
estruturar o texto dessa maneira,
reiteramos a necessidade de uma
psicologia capaz de escutar e amplificar
o grito dos marginalizados, excluídos e
segregados, que ecoam às margens da
sociedade.
Assim sendo, falaremos aqui
não somente sobre música, arte e
poesia, mas também sobre resistência,
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revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
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transformações da cultura")
luta por espaço e igualdade de direitos.
Sobre como esses discursos,
presentes em espaços reais ou
imaginados, resistem a outras
modalidades discursivas
instauradas, como o neoliberalismo e
as suas normas de vida; e também
sobre como a Psicologia hegemônica,
herdeira de uma moralidade
aristocrática, deve cair para a ascensão
de uma outra Psicologia contra-
hegemônica, fronteiriça, anticolonial,
que “deite e role na lama, que se
desfaça da ciência cartesiana e se
encha de povo” (Nascimento, 2024,
n.p.) e traga para o debate a memória
popular, como insistentemente
argumenta Maritza Montero (2014) e
Martin-Baró (2016).
Partimos da compreensão de
que o papel da Psicologia, nesse
contexto, não é outro senão o de aliar-
se a essas vozes insurgentes, como um
potencial instrumento de transformação
social. Esse processo envolve não
apenas a análise crítica das estruturas
opressivas que perpetuam a
desigualdade, mas também a análise
da materialidade discursiva das
narrativas que sustentam o movimento
do Hip-Hop, especialmente dentro do
contexto douradense.
Assim sendo, tomamos o Hip-
Hop, não apenas como movimento
cultural, mas como um espaço de
resistência e ressignificação. E assim o
interpretamos, pois, as letras, as
batidas, bem como os enunciados que
surgem a partir da construção de
coletividades, nos encontros e
desencontros possíveis dentro das
batalhas de rima, nos eventos culturais
e nas “quebradas” de toda a cidade,
oferecem um terreno fértil para a
expressão das dores, sonhos e
aspirações daqueles que foram
historicamente silenciados/as.
Dessa forma, para uma melhor
compreensão desse fenômeno dentro
do contexto douradense, delimitaremos
ao longo do texto o enunciado que
nome a este trabalho. Tal perspectiva
justifica-se na necessidade de uma
compreensão mais ampla sobre a
polifonia que a noção de imaginação
política mobiliza, presente nos
discursos dos MCs da cidade de
Dourados, na formação de
comunidades e também no exercício da
cidadania em oposição aos ideários
neoliberais.
Haja vista a produção do
documentário “A cena do Rap em
Dourados” (no prelo), no contexto de
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um Estágio Supervisionado de Ênfase
A (processos psicossociais) do curso
de Psicologia da Universidade Federal
da Grande Dourados, voltamo-nos à
análise dos enunciados apresentados
pelos MCs em suas entrevistas,
buscando compreender o papel da
imaginação política na estruturação de
discursos de resistência ante aos
vieses de individuação e
compartimentalização do coletivo,
amplamente difundidos dentro no
neoliberalismo, e também a
segregação, violência e preconceitos
advindos da operacionalização desse
discurso.
Ao todo, foram entrevistadas
quinze pessoas para a realização do
documentário, sendo cinco mulheres e
dez homens, com idades diversas, que
juntos de outros tantos que o
puderam ser alcançados na ocasião
das gravações, por limitações de
tempo, recursos e pessoal, integram o
atual cenário douradense do Hip-Hop.
Salienta-se, em consonância a
isso, que nem todo o material colhido foi
utilizado para análise; apenas alguns
dos enunciados apresentados pelos
MCs, no contexto da gravação das
entrevistas, foram selecionados para
fundamentar o presente trabalho. Tal
decisão se fez necessária devido a
limitação de tempo para a realização da
pesquisa. Por essa razão, foram
selecionados trechos específicos das
entrevistas de quatro MCs, sendo três
mulheres e um homem, e de um grupo
de MCs, composto por quatro homens.
A análise dos enunciados foi
feita através de uma revisão
sistemática das entrevistas transcritas,
alinhada a estudos sobre a
operacionalização do discurso
neoliberal na sociedade
contemporânea e as (im)possibilidades
de resistência ante as dinâmicas de
poder que perpetuam as desigualdades
e silenciam os sujeitos das periferias
urbanas, sobretudo, quando essas
periferias estão em zona de fronteira,
como é o caso da cidade de Dourados.
O corpus da pesquisa, portanto,
pode ser definido como sendo um
recorte dos principais enunciados
apresentados pelas pessoas MCs
durante suas entrevistas; as dinâmicas
de exclusão e invisibilização social
analisadas a partir de bibliografia
básica sobre a temática e a criação de
discursos de resistência ao
neoliberalismo, enquanto sistema
normativo, no contexto da cidade de
Dourados-MS. Diante disso, o foco na
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revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
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transformações da cultura")
materialidade linguística dos
enunciados apresentados pelos MCs,
relativa à marginalização e a
resistência ativa às normas
sociais/discursivas vigentes, é
considerado o principal objeto da
análise realizada. Propõe-se
apresentar, nesse sentido, uma análise
sobre o movimento Hip-Hop na cidade
a partir da perspectiva da análise do
discurso, como uma forma de
resistência ativa ante ao neoliberalismo
e as suas nuances.
Buscou-se, nesse sentido,
estabelecer conexões e similaridades,
a partir da identificação de imaginação
política, entre enunciados que
permitissem a compreensão do
contexto e das condições de produção
de discursos de resistência a esses
processos. Esse movimento levou em
conta as vinculações históricas,
sociológicas e linguísticas, utilizando
interpretações pós-estruturalistas e da
análise de discurso (Orlandi, 1999).
Partiu-se do princípio de que o
discurso não possui uma origem fixa e
não responde a uma posse única, mas
circula; mesmo que, após ser posto em
circulação, sua origem se desfaça, ou
seja, esquecida, e que seus sentidos
não sejam controlados pelo enunciador
(Pêcheux, 1990). Reconhecemos que a
dispersão do discurso segue regras
delimitadas por uma ordem discursiva
complexa e que a exterioridade é um
componente irremediável. Portanto, a
identificação da autoria não é o foco da
análise; ao contrário, o objetivo é
compreender as condições de
produção que permitem que algo seja
enunciado, compreendido e
modificado, ou não, em um
determinado contexto espacial e
temporal (Orlandi, 1999).
Imaginação política e Hip-Hop
Diante da opressão institucional
sobre os corpos marginalizados,
surgem movimentos que versam sobre
formas de resistência ante a práticas
que legitimam e perpetuam
desigualdades, abordando a
possibilidade de transformações
sociais e comunitárias, como é o caso
do Hip-Hop. O discurso mantido pelos
rappers dentro do movimento Hip-Hop
é político de resistência e, ao contrário
da modalidade discursiva adotado
pelas instituições, pode assumir
diferentes formas de expressão
“marginal”, sendo uma delas o próprio
RAP (Colima; Cabezas, 2017, p. 32).
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Dessa maneira, mesmo em
condições desfavoráveis,
determinadas práticas culturais
emergem como práticas de resistência,
pregando a coletivização das
experiências, mobilização,
conscientização e intervenção político-
social, indo na contramão daquilo que
está, institucionalmente, estabelecido
(Oliveira, Sathler; Lopes, 2020), pois as
perspectivas construídas dentro desses
contextos atuam diretamente na forma
como os sujeitos compreendem as
relações sociais e a importância da
coletividade.
O rap se apresenta então o
somente como uma expressão
artística, mas como modalidade
discursiva que versa sobre as
(im)possibilidades de vida e de
mudança dos sujeitos marginalizados
socialmente. Ao reivindicar espaços
públicos, articularem experiências
coletivas e promoverem uma crítica ao
sistema e aos discursos vigentes, os
sujeitos do underground subvertem a
racionalidade neoliberal, expressando
não apenas dissidência, mas criando e
ocupando espaços de autonomia e
coletividade.
Valem-se da revolta que sentem,
decorrente dos processos de exclusão
e invisibilização social, para buscar
mudanças e conscientizar a população
sobre as estruturas de poder que
regem a vida em sociedade. Isso fica
claro, por exemplo, nas letras de
Eduardo Taddeo, ex-Facção Central,
onde o rapper diz que:
[...]
Quem não tem o padrão de
vida estabelecido na
constituição federal
Já tá em estado avançado de
putrefação
Quem tem a probabilidade de
uma morte violenta
Por sua condição financeira e
cor de pele
Já sobrevive dentro de um
túmulo
A coroa de flor
É só um detalhe para nós
Que caminhamos sem vida
Na escuridão da indigência
Viver é ter a opção de crescer
profissionalmente
E intelectualmente
De não ser metralhado pela
polícia
De não ser torturado num
sistema prisional
Puramente vingativo
Enquanto não pudermos
impedir o genocídio
O racismo
A alienação
O aprisionamento em massa
A pobreza extrema e a
anulação social
Não passaremos de cadáveres
que respiram
[...]
(Eduardo Taddeo Estamos
Mortos, 2023)
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transformações da cultura")
Dessa forma, suas letras, falas e
ações, atuam como um farol para todos
aqueles que estão às margens da
sociedade, promovendo
conscientização e noção de
pertencimento, dada a semelhança
entre aquilo que é expresso em seus
versos e a realidade cotidiana dos
sujeitos tidos como “marginais”.
A partir dessas constatações,
percebe-se, muito claramente, a
presença de imaginação política nas
narrativas apresentadas pelos
rappers/MCs, de modo geral; e isso fica
ainda mais evidente na medida em que
estes sujeitos, dotados de uma posição
de fala-poder, não apenas imaginam
possibilidades de ação, mas agem,
efetivamente, em função da construção
política de coletividades insurgentes,
buscando a inconformidade como fator
comum. Assim sendo, podemos
interpretar esse conceito
[...] como uma forma de
transcender a realidade política
e, assim, desafiar a
conformidade. Ela pode ser
usada para visualizar possíveis
futuros e trazer à vida um
passado real, mas distante.
3
No original: [...] a way of transcending political
reality, and thus challenging conformity. It can
be used to visualize possible futures and to
bring to life a real but distant past. It can be a
consciously applied strategy or an unconscious
way of processing desire. In a broad sense,
Pode ser uma estratégia
aplicada conscientemente ou
uma maneira inconsciente de
processar o desejo. Em um
sentido amplo, a imaginação
política destina-se a designar
todos esses processos
imaginativos pelos quais a vida
coletiva é simbolicamente
experimentada e esta
experiência mobiliza-se com
vista à consecução de objetivos
políticos (Glaveanu; Saint
Laurent, 2015. apud.
Duncombe; Harrabye, 2021, p.
2. Tradução nossa)
3
.
Compreender essas
manifestações a partir do prisma da
análise do discurso nos permite
vislumbrar a construção de narrativas
que recuperam a centralidade do
coletivo e da justiça social, permitindo
que os sujeitos imaginem e atuem,
politicamente, na contestação das
estruturas sociais vigentes. A
resistência, então, é tida não apenas
como um ato de oposição, mas uma
prática criativa que busca construir
novos caminhos e possibilidades de
resistência, desafiando as imposições
de um sistema que desvaloriza a vida
comunitária.
political imagination is meant to “designate all
those imaginative processes by which collective
life is symbolically experienced and this
experience mobilised in view of achieving
political aims (Glaveanu and Saint Laurent
2015, p. 559).
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transformações da cultura")
O interesse em sufocar as
subjetividades e evitar que os
indivíduos pensem crítico-
criativamente é político. Aqueles que
detém o poder do discurso, possuem a
capacidade de manipular a verdade e
assim obscurecem a capacidade
criativa dos sujeitos, mantendo-os
alienados e fáceis de controlar. O
sufocamento da capacidade criativa se
manifesta na sujeição do discurso e nos
atravessamentos que constituem o
sujeito que ainda não despertou a
consciência sobre a própria situação;
diferentemente daqueles que
constituem o cenário do Hip-Hop e
utilizam da revolta que sentem para
imaginar um futuro melhor, valendo-se
de uma modalidade discursiva, também
política, para geração de mudança.
Dessa maneira, o Hip-Hop se
apresenta como uma possibilidade de
resistência a partir da formação de uma
identidade social e coletiva frente ao
discurso neoliberal de
compartimentalização do social.
Discurso esse que visa a criação de
corpos dóceis e obedientes, sem se
importar com o processo de exclusão,
marginalização, sofrimento psíquico e
angústia, sentidos na pele pelos
sujeitos que por ele são agenciados.
Assim, a imaginação política
oferece o aporte contra-hegemônico
que os sujeitos precisam para desafiar
as políticas neoliberais e seus efeitos
de marginalização, promovendo assim
novas formas de pensar e agir que
buscam reverter a lógica opressiva e
excludente das normas de vida
oriundas do neoliberalismo enquanto
sistema normativo. Assim, ao
compreender a profundidade e as
nuances desses processos, pode-se
dar início ao desenvolvimento de
estratégias de resistência que não
apenas contestem, mas transformem
as estruturas de poder que perpetuam
a marginalização e o silenciamento das
periferias urbanas.
A hegemonia do discurso neoliberal
Historicamente “[...] o
neoliberalismo surge como uma
tentativa de dar conta das tensões
teóricas e das crises econômicas e
sociais da transição entre as metades
do século XX, mas torna-se uma
política econômica e consolida-se,
sobretudo, como uma racionalidade
governamental” (Coelho; Neves, 2023,
p. 3). Entretanto, devido às implicações
desse sistema sobre outras áreas para
além da economia e a política, o
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
neoliberalismo, enquanto discurso,
tornou-se hegemônico e, mais ainda,
transfigurou-se em um sistema
normativo.
Um dos principais autores que
tratam sobre essa questão é Harvey
(2008), que discute os processos
formativos desse sistema ao redor do
mundo, impulsionado pelo fenômeno
da globalização, em sua obra O
neoliberalismo: história e implicações.
No livro em questão o autor descreve o
termo como um conjunto de práticas
políticas que objetiva o pleno exercício
de liberdades e capacidades
empreendedoras individuais no âmbito
de uma estrutura institucional,
caracterizada por direitos à propriedade
privada, livres mercados e livre
comércio. Todavia, constata-se que, ao
longo de seu desenvolvimento, o
neoliberalismo transformou a forma
como a distribuição de poder ocorre
dentro da sociedade, ganhando vida
própria e desmembrando-se do
capitalismo tradicional, não mais
limitando-se a essa definição.
Nesse sentido, estabelece-se
novas relações e usos possíveis para o
termo, e atribui-se a ele o caráter
hegemônico, que se dá, em grande
parte, devido a forma e efetividade
como esse sistema afeta e modifica os
modos de pensamento dos sujeitos na
sociedade, incorporando-se às
maneiras cotidianas de interpretação,
vivência e compreensão do mundo
(Harvey, 2008), além, claro, da forma
como fundamenta certas práticas
institucionais, legitimando a ideologia
neoliberal e sustentando as (novas-
velhas) relações de poder.
Pode-se afirmar, nesse sentido,
que,
O neoliberalismo, enquanto
racionalidade, é pautado na
premissa de que o mercado é o
modelo ideal para todas as
relações sociais, o que implica
em um modo de viver baseado
na competitividade, no lucro
máximo e na crença de que
tudo ou todos pode(m) ser
negociado(s) (Coelho; Neves,
2023, p. 4).
E que, portanto, não deveria ser
reduzido meramente a uma ideologia,
tipo de política econômica ou
contradição do capitalismo, e sim
interpretado como um sistema
normativo particular composto por um
conjunto de discursos, práticas e
dispositivos (Dardot; Laval, 2016) que,
para existir, demanda de novos modos
de ser e pensar (Foucault, 2005, p.
219).
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transformações da cultura")
Visto que o produto desse
sistema é um modo particular de ser
sujeito (Caponi; Daré, 2020, p. 303),
onde os atravessamentos neoliberais e
a lógica da individualização influenciam
as possibilidades do sujeito (Safatle;
Silva Junior; Dunker, 2020), devemos
compreender que esse contexto de
produção de subjetividades (e porque
não vulnerabilidades) molda a(s)
forma(s) de resistência e agência dos
sujeitos (Furlin, 2013).
Territorialidade e marginalização no
cenário douradense
Considerando que as políticas
neoliberais frequentemente resultam
em segregação socioespacial e
reforçam, por meio da opressão e de
discursos meritocráticos, as
desigualdades sociais, abordaremos o
fenômeno da organização espacial da
sociedade como um exemplo da
manutenção do poder em detrimento
das subjetividades e vozes dos sujeitos
marginalizados. Entretanto, para que
isso seja possível faz-se necessária a
compreensão sobre o que é a
territorialidade e quais as influências
dela sobre o processo de
marginalização dos sujeitos das
periferias urbanas.
Sack (1986) afirma que a
territorialidade pode ser interpretada
como um dispositivo de controle social
utilizado por certos agrupamentos para
delimitar e efetivar o controle sobre um
determinado recorte sociodemográfico.
Isso resulta de uma complexa relação
entre as dimensões políticas,
econômicas e culturais de um território,
que podem se transformar de acordo
com os interesses daqueles que estão
em posições de poder. Dessa forma, “a
territorialidade passa a ser entendida,
então, como estratégia espacial de
controle e influência, marcada por
intencionalidade por parte dos atores
que a acionam” (Soares Junior; Santos,
2018, p. 24).
Assim sendo,
A periferização não é uma
conseqüência natural do
crescimento urbano, mas uma
forma racional de promovê-lo
com a segregação social e
espacial, dando aos pobres a
pobreza das condições de vida
que a própria urbanização
segregada produz: distância
excessiva, precariedade de
transporte e vias de acesso,
das construções, da infra-
estrutura em rede, de
segurança, de serviços os mais
diversos etc (Espinheira;
Soares, 2006, p. 5).
Tal organização espacial é uma
manifestação clara das políticas
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
farol. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
neoliberais que perpetuam a
desigualdade e a exclusão social.
Exclusão essa simbólica, diga-se de
passagem, uma vez que existem,
mesmo que precariamente, estruturas
que visam o acesso a “igualdade de
oportunidades”, mas que afetam e
limitam significativamente as
perspectivas e possibilidades de ação
dos sujeitos alvo da segregação devido
a sua ineficácia. Objetiva-se, a partir
disso, criar narrativas que “justifiquem”
a exclusão e a desigualdade, na
medida em que naturalizam a ideia de
que certos grupos sociais são, por
natureza, problemáticos e/ou menos
merecedores de recursos e
oportunidades.
Em última análise, a
marginalização, decorrente do uso
político da territorialidade em
consonância com o discurso neoliberal,
serve como uma ferramenta de controle
social e visa a manutenção da ordem
discursiva estabelecida (Foucault,
2014a), impedindo que os sujeitos
marginalizados desafiem as estruturas
de poder dominantes (Foucault,
2014b).
No contexto douradense,
observou-se claramente esse processo
ao mapear os locais onde as batalhas
de rima acontecem ao longo dos dias
da semana. Exceto pela chamada
“Batalha do Centrão”, que ocorre na
Praça Antônio João, localizada bem no
centro da cidade, as demais
localidades apresentam como padrão e
fator comum o distanciamento da
região central.
Tal constatação pode ser
interpretada como o processo de
marginalização, no sentido literal e
simbólico da palavra, da cultura Hip-
Hop na cidade de Dourados MS, uma
vez que, mesmo contando com a
“Batalha do Centrão”, na Praça Antônio
João; a “Batalha da 50”, na Praça do
Cinquentenário; a “Batalha do C3”, na
praça do Canaã 3; a “Batalha dos Ipês”,
no Parque dos Ipês e, por fim, a
“Batalha do Lago”, realizada no Parque
Antenor Martins, não há qualquer
incentivo da prefeitura municipal para
fomento cultural do Hip-Hop na cidade.
Esse cenário leva os sujeitos
que integram o movimento a articular-
se por conta própria para viabilizar a
expressão da angústia e revolta que
sentem em forma de arte e poesia em
locais blicos, como uma forma de
afirmação de suas existências. Essa
dinâmica se aproxima das heterotopias
em Foucault (2021), onde as mesmas
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
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farol. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
demarcam, tal qual o exercício da
imaginação política, a transformação
de espaços comuns em locais de
significação alternativa, onde novas
formas de poder e identidade são
negociadas e afirmadas a partir do
deslocamento da visão disciplinar do
espaço público para uma prática de
resistência.
ocupação das praças, em sua
maioria distantes do centro, expõe a
marginalização simbólica e territorial da
cultura Hip-Hop, ao mesmo tempo que
transforma esses locais em espaços
alternativos de poder e expressão.
Cada batalha, portanto, reafirma a
presença de vozes historicamente
invisibilizadas, questionando dinâmicas
excludentes e consolidando novas
narrativas de pertencimento e
protagonismo.
Figura 1: Mapeamento das batalhas de rima
em Dourados MS
Fonte: Autoria própria, 2024.
Essa ideia se fez presente no
discurso dos entrevistados, como na
fala do MC 1, que evidenciou a
importância desse movimento de
ocupação de espaços públicos no
exercício de uma resistência ativa e
coletiva ante ao processo de
marginalização das batalhas de rima e
do movimento do Hip-Hop:
E aí, depois da criação da
Batalha, eu fui entendendo,
acho que a grandeza de como
é participar e organizar o
movimento social e cultural, e
isso também foi um baque
pra mim, porque antes de
organizar, eu tinha uma
visão de MC, e ainda uma visão
muito rasa. E aí, depois
organizando, eu tive uma visão
mais profunda sobre o que
representa estar ali ocupando o
espaço público. E depois
você que aquilo ali, e é muito
importante, não por uma
questão de movimentar a cena
ou de rima, mas para a vida das
pessoas que estão
participando ali… Aquilo
representa muito para as
pessoas. (Trecho da entrevista
com o MC 1).
Ao destacar o caráter coletivo e
a responsabilidade existente na
organização e realização das batalhas,
os MCs enfatizam que tais práticas não
são meramente artísticas ou para fins
de entretenimento, são também formas
de demonstrar poder e jogar luz sobre
os processos de marginalização e
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
silenciamento de determinados
agrupamentos sociais; isso ocorre na
medida em que mobilizam corpos e
mentes contra a opressão institucional
e fazem oposição aos discursos
hegemônicos vigentes em suas letras e
aparições públicas, que ocorrem em
diferentes localidades da cidade.
Assim, a cultura cumpre seu papel
como ferramenta de expressão, mas
também representa um modo de
resistência ativa, como destacam os
entrevistados.
A gente também tá ensinando
no palco não como artista
cantando, a gente também
falando de política ali em cima.
A gente também levando a
militância ali em cima, né?
Quando a gente fala da nossa
comunidade, quando a gente
fala dos problemas que
ocorrem dentro da
comunidade, é óbvio que a
gente relatando ali é uma
parada de denúncia ali em cima
também, né? (Trecho da
entrevista com o grupo 1 de
MCs).
[...] é um movimento que critica,
né? Também crítica ao sistema
capitalista, essa é a minha
visão sobre o movimento…
para mim, todo MC, por
exemplo, ele tem que ser um
guerrilheiro, uma guerrilheira,
porque o capitalismo não é a
favor do hip hop… (Trecho da
entrevista com o MC 1).
O conteúdo obtido através das
entrevistas revela profunda consciência
política e criticidade por parte dos
atores sociais do movimento; tais
elementos são evidenciados por
práticas e falas que buscam, através da
construção de coletividades, a
conscientização da população
marginalizada sobre as estruturas de
poder presentes na sociedade, como
quando afirmam que o que os movem é
a coletividade e a responsabilidade
sobre estar à frente de um movimento
crítico, como destaca o MC 1 ao afirmar
Então, hoje em dia eu acho que
o que me move para continuar
fazendo a batalha, é essa
questão de que não é só sobre
uma batalha e sim sobre um
coletivo, é sobre uma luta,
que também tem essa
grandeza, esse peso, e saber
que uma responsabilidade
grande, que não é carregada
sozinha, mas ainda é
necessário, às vezes aos
trancos e barrancos, né?
(Trecho da entrevista com o
MC 1).
Se fazem presentes nesses
enunciados a crítica ao capitalismo (ao
neoliberalismo na medida em que se
cita a importância da coletividade), e
também a visão dos MCs sobre o Hip-
Hop como um combatente cultural. Tais
narrativas, claramente críticas,
emergem como formas de oposição à
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transformações da cultura")
hegemonia dos discursos
contemporâneos de individualização e
compartimentalização do coletivo. A
ideia apresentada acima, de “guerrilha”
cultural, evidencia que a resistência
praticada cotidianamente pelos sujeitos
que constituem o cenário douradense
do Hip-Hop o é meramente passiva,
mas uma contínua prática de
subversão e criação de espaços
discursivos, reais ou imaginados, como
quando falam de seus sonhos e
aspirações em oposição a realidade
estrutural que a eles se apresenta
atualmente. Isso fica evidente quando
afirmam seus desejos de romper com
as violências que perpetuam a
marginalização do movimento.
Pô, primeiro desejo que a gente
consiga quebrar essa violência
que a cidade tem com a com
culturas periféricas, né? Então
o primeiro passo é quebrar
essa barreira… Então um
sonho meu é ter mais apoio da
prefeitura, sabe? Pra gente ter,
por exemplo, é uma iluminação
melhor na praça, pra gente
poder ter equipamento
disponível, ou pelo menos uma
tomada ali pra gente conseguir
conectar um microfone e uma
caixa... Conseguir ter esse
apoio, sem ficar com medo de
sofrer violência policial da
polícia, passar ali e fazer uma
batida e assim, alguma pessoa
ser violentada de alguma
forma, porque vai ser
truculenta, com certeza…. O
impacto da polícia, se ela for lá
na praça, como já foi outras
vezes nos Ipês, por exemplo,
foi truculento de uma forma
desnecessária… (Trecho da
entrevista com o MC 1).
Outro aspecto relevante
apontado é a violência estrutural contra
a cultura considerada “marginal” e a
necessidade de apoio institucional para
a manutenção desse movimento. Algo
que está, aparentemente, longe de
acontecer. Ao citar a abordagem
policial truculenta, revestida de
preconceitos, evidencia-se a
encarnação do poder disciplinar no
sufocamento de qualquer forma de
oposição às normas de vida
consideradas socialmente aceitáveis,
além da tentativa de controle dos
espaços públicos como forma de
manutenção da ordem e supressão da
dissidência. O apoio da prefeitura,
nesse caso, é uma tentativa de
legitimar a cultura do underground
nesses espaços e desafiar a repressão
advinda dos aparelhos (repressivos) do
Estado (Althusser, 1980).
Essa tentativa de legitimação do
movimento aparece nas falas de quase
todos os entrevistados, ficando
evidente quando afirmam que as
pessoas que estão fora do movimento
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
não compreendem a extensão do Hip-
Hop enquanto expressão cultural,
apenas focam em conceitos pré-
estabelecidos sobre como a cultura do
underground está associada à
marginalidade.
[…] acho que no meio do hip
hop as pessoas não aceitam
aquilo né, é como se fosse
marginalizado e tudo mais.
(Trecho da entrevista com a
MC 2).
E muitas vezes a gente está ali
na insegurança, com medo da
polícia, mesmo com medo da
repressão. Com medo da
galera extremista, ? Da
política, que acha que ali é
coisa de vagabundo. (Trecho
da entrevista com a MC 3).
Isso é muito importante porque
a gente levando a cultura,
tirando desse senso comum
que a batalha é um lugar
marginalizado, onde traz
ideias fúteis e não, a batalha
tem muito a agregar na
cabecinha de todo mundo.
(Trecho da entrevista com a
MC 2).
Assim, a noção de
marginalização do movimento se fez
presente em todas as entrevistas
realizadas, sendo apresentada de
diferentes formas pelos entrevistados.
De um ponto de vista objetivo, pode-se
interpretar esse processo como uma
estratégia institucional de
desqualificação e controle de práticas
culturais que desafiam a norma.
Os/as MCs, enquanto alvos e
objetos dessas articulações discursivo-
políticas, em oposição a isso, utilizam
suas experiências de vida para criar
narrativas/discursos que ressignificam
o que é ser um “marginal” e reformulam
as concepções prévias da sociedade
sobre o que é o Hip-Hop, contestando
todo o estigma que recai sobre o
movimento; demonstrando assim que
as batalhas são espaços de construção
e disseminação de conhecimento
crítico e cultural, como destaca a MC 4.
Toda agência que eu infrinjo
efetivamente a nível de
sociedade ou a nível de
articulações que não estão
integradas no que a gente
interpreta como sociedade, é
através da cultura. Então a
minha agência é
exclusivamente cultural, assim,
o que eu consigo dedicar
energia e ver uma mudança
acontecendo é através da
cultura, então não seria... até
eu ser uma agente social, por
exemplo, uma assistente,
alguma coisa, porque eu penso
em trabalhar nessa área, minha
agência ela é cultural, e eu
acho que é uma forma muito
legítima de trazer uma
interpretação coerente da
realidade do momento que a
gente vivendo e convidar
reflexões e perspectivas pro
debate. (Trecho da entrevista
com a MC 4).
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Além disso, os discursos
construídos pelos sujeitos do Hip-Hop
douradense servem também como
ferramentas de decolonização e
unificação de pessoas na medida em
que redefinem identidades e desafiam
as divisões impostas pelo colonialismo
e racismo estrutural. A discriminação
contra minorias é destacada, nesse
sentido, como um fator de relevância
para a análise, uma vez que evidencia
como o poder opera através de
determinadas práticas discursivas,
perpetuando preconceitos e
silenciando os gritos daqueles que
buscam por direitos.
Nesse sentido, a ascensão
social dessas populações e a presença
de suas narrativas na grande mídia
desafiam essas práticas e reivindicam
espaço para as vozes historicamente
marginalizadas, jogando luz sobre a
violência, literal e simbólica, do
preconceito sofrido, como destaca o
grupo 1 de MCs.
desde aí, eu falei nossa,
cara. Eu pensei, né? Puff, né?
Não tem ninguém, né? Que fala
por nós, que grita. - Ô estamos
aqui! O povo Kaiowá-Guarani,
o povo Tereno aqui, Mato
Grosso do Sul, , né? Não
tinha ninguém que falava isso
pela gente. Foi, foi quando eu
tinha o quê? Uns 6, 7 anos de
idade naquela época, saca?
Então é uma parada que já né?
Desde pequeno, eu comecei a
pensar né? No, no povo… na
luta, né? (Trecho da entrevista
com o grupo 1 de MCs).
No… na rádio tocando porque
você vê que o estado é feito de
agronegócio, o estado é feito
pelo os fazendeiros, saca?
Então ali também um
preconceito, saca? Já há um…
um preconceito contra o
indígena e ainda mais por ser
um indígena cantando rap
ainda mais preconceito
ainda, saca? (Trecho da
entrevista com o grupo 1 de
MCs).
De modo geral, os enunciados
apresentados pelos MCs destacam o
papel do Hip-Hop como uma forma de
denúncia política das não-condições de
expressão existentes na sociedade.
Essas falas (sejam elas as músicas ou
rimas improvisadas) são uma forma
clara de expressão da resistência
discursiva desses sujeitos ante aos
ideários neoliberais e capitalistas de
individualização, mérito, sucesso e
afins. Diante disso, o “palco”,
representado pelos espaços públicos
da cidade, para além de um espaço de
performance, torna-se um local de
articulação política, onde questões de
ordem comunitária o expostas e
debatidas, subvertendo e
reconfigurando as relações de poder
instituídas e promovendo novas formas
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
de identidade/agência dos sujeitos do
movimento Hip-Hop da cidade de
Dourados, sendo a principal ferramenta
de transformação social que os sujeitos
tidos como “marginais” empunham
contra as normas sociais do sistema
discursivo/normativo vigente.
[…] pra nós o rap hoje, tipo é
uma… uma arma que tipo
quebrando esse corrente,
quebrando esse barreira que
existe entre branco, negros e
índios, sabe? (Trecho da
entrevista com o grupo 1 de
MCs).
Compreende-se, a partir da
perspectiva analítica adotada e da
análise dos enunciados acima
descritos, que a imaginação política se
encontra efetivamente inserida nos
discursos analisados e serve não
apenas para imaginar um mundo
igualitário, mas também atua como um
chamado à ação, isto é, como um farol
que guia os sujeitos marginalizados à
resistência e a coletividade.
Destaca-se também a
necessidade de adoção de uma
perspectiva decolonial para a análise
efetiva desses enunciados, que se deu
no decorrer do processo de
estruturação/organização dos
resultados obtidos. Tal ação fez-se
necessária na medida em que os
conhecimentos acessados nas
principais bases de dados para
pesquisa não contemplaram sequer
uma terça parte da temática,
evidenciando considerável limitação de
produções científicas sobre o assunto.
Dessa maneira, conforme
evidenciado por Amaral (2021), adotar
essa abordagem permitiu uma
compreensão mais ampla sobre a
estruturação das relações de poder na
sociedade a partir do prisma da
colonialidade e, por essa razão, foi
adotada em complemento à
metodologia escolhida para a
realização da pesquisa.
A análise resultante disso
revelou que os/as MCs não apenas
criticam o sistema capitalista e a
percepção social negativa do Hip-Hop,
mas também constroem novos
caminhos através de suas ações. Eles
se envolvem ativamente na promoção
de eventos culturais, na busca por
apoio institucional e na inclusão de
artistas locais, mostrando uma
resistência prática e contínua ante as
desigualdades resultantes dos
discursos neoliberal e capitalista.
Ademais, os entrevistados
relataram ainda a importância de
fomentar a cultura urbana local,
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
trazendo shows que normalmente não
seriam acessíveis e criando espaços
seguros para a expressão artística,
destacando a necessidade de desafiar
os estereótipos associados ao Hip-Hop.
As entrevistas também evidenciaram o
esforço em incluir mais mulheres e
outras minorias no cenário musical,
criando uma rede de apoio e
visibilidade para essas artistas.
Considerações finais
Ao analisar os enunciados
apresentados pelos MCs do cenário
douradense de Hip-Hop, à luz da
Análise do Discurso, observou-se um
movimento constante de resistência à
hegemonia discursiva neoliberal, onde
os sujeitos utilizam a música e a cultura
como meios de subversão e
transformação social, isto é, utilizam
desses meios para não somente
expressar a revolta, produto do
processo de marginalização do Hip-
Hop, mas também para reivindicar
espaço de fala e melhora das
condições necessárias para o exercício
da cidadania através do mic. A
imaginação política presente no
discurso das pessoas entrevistadas é
vista, portanto, não apenas como um
sonho utópico, mas como uma
realidade tangível, moldada pelas
ações cotidianas dos artistas e ativistas
que constituem o movimento na cidade
de Dourados.
É importante destacar que
pesquisa não contribui para a
compreensão teórica da imaginação
política, mas também para a
compreensão da importância do Hip-
Hop como uma ferramenta prática de
transformação social, pois demonstra,
através das relações teórico-
conceituais elaboradas, como as/os
MCs estão ativamente envolvidas/os na
construção de um futuro baseado na
coletividade, imaginando,
politicamente, diferentes formas de
resistir às opressões e contradições do
sistema normativo vigente.
Ademais, considera-se que se
estabeleceram as relações possíveis
com os conteúdos acessados ao longo
das entrevistas e investigações
complementares; e salienta-se que a
análise realizada o tem qualquer
pretensão de chegar a uma conclusão
específica ou a uma verdade absoluta
sobre o assunto. Pelo contrário, ela
objetiva meramente questionar as
estruturas de poder vigentes,
colocando em voga a possibilidade de
resistência comunitária ante ao
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PALÁCIOS, Renan; SANTOS, Jenniffer Simpson dos. Gritos na margem: a
revolta discursiva presente no Hip-Hop e a imaginação política como
farol. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
fenômeno de individualização e
compartimentalização do coletivo vivido
na contemporaneidade.
É importante destacar também
que a perspectiva aqui elaborada pode
conter limitações conceituais e
técnicas, considerando a polissemia do
termo em debate e as adversidades
encontradas durante o processo de
pesquisa sobre informações adicionais
de usos possíveis do conceito; dessa
forma, os resultados obtidos e as
relações estabelecidas correspondem
a uma interpretação possível dentre
várias outras. Destaca-se, nesse
sentido, a necessidade de estudos
posteriores sobre o assunto de modo a
complementar as informações
alcançadas ao longo do
desenvolvimento do presente trabalho,
que é fruto do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC),
da Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD).
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