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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
“A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro, diversão e arte” -
possibilidades de uma economia criativa alternativa a partir das experiências
do movimento Hip-Hop em Florianópolis
Alice Hübner Franz
1
Eloise Livramento Dellagnelo
2
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v15i28.65571
Resumo: O presente artigo tem como objetivo central analisar as práticas artísticas e organizativas do
movimento Hip-Hop em Florianópolis e refletir sobre como essas práticas podem contribuir para a
construção de uma economia criativa alternativa na cidade, tendo como base a perspectiva real ou
substantiva de economia proposta por Polanyi. Nos últimos anos tem se fortalecido, em Florianópolis,
um discurso em torno da economia criativa no qual a perspectiva de cultura está fortemente orientada
para uma ideia de mercado, a qual tende a excluir e marginalizar setores criativos, incluindo o setor
cultural, que não possuem um alinhamento à essa lógica. Buscando alcançar o objetivo deste artigo,
realizou-se um estudo de caso sobre o movimento Hip-Hop em Florianópolis, com a coleta de dados
por meio de observação participante, 24 entrevistas semiestruturadas e análise de documentos. A partir
da análise feita acerca das práticas artísticas e organizativas do movimento Hip-Hop em Florianópolis
foi possível identificar elementos que apontam para uma outra forma de economia, que pode ser vista
como uma perspectiva alternativa de economia criativa, distinta da perspectiva dominante atualmente
promovida na cidade. As práticas do Hip-Hop, por outro lado, oferecem uma visão distinta sobretudo
por se aproximarem da noção substantiva de economia, destacando aspectos como a importância da
solidariedade, da coletividade, do apoio mútuo, da confiança e da possibilidade de autossustentação.
Palavras-chave: Hip-Hop; economia criativa; economia; alternativa econômica.
"We don't just want money, We want money, fun and art" - thinking about possibilities for an
alternative creative economy through the experiences of the Hip-Hop movement in Florianópolis
Abstract: This article aims to analyze the artistic and organizational practices of the Hip-Hop movement
in Florianópolis and reflect on how these practices can contribute to the construction of an alternative
creative economy in the city, based on Polanyi’s real or substantive perspective of the economy. In
1
Doutora em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Integrante do
Observatório da Realidade Organizacional, SC (UFSC). E-mail: alicefranz1@gmail.comm. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8475-2178.
2
Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente do
Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina
(PPGAdm/UFSC). Pesquisadora do Observatório da Realidade Organizacional, SC (UFSC). E-mail:
eloiselivramento@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7586-0302.
Recebido em 01/12/2024, aceito para publicação em 22/12/2024.
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alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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recent years, a discourse surrounding the creative economy has gained strength in Florianópolis, where
the cultural perspective is strongly oriented towards a market-based idea that tends to exclude and
marginalize creative sectors, including the cultural sector, that do not align with this logic. To achieve
the objective of this article, a case study was conducted on the Hip-Hop movement in Florianópolis, with
data collection through participant observation, 24 semi-structured interviews, and document analysis.
From the analysis of the artistic and organizational practices of the Hip-Hop movement in Florianópolis,
it was possible to identify elements pointing to another form of economy, which can be seen as an
alternative perspective of creative economy, distinct from the dominant perspective currently promoted
in the city. Hip-Hop practices, on the other hand, offer a distinct vision, particularly by aligning with the
substantive notion of economy, highlighting aspects such as the importance of solidarity, collectivity,
mutual support, trust, and the possibility of self-sustainability.
Keywords: Hip-Hop; creative economy; economy; economic alternative.
"No solo queremos dinero, queremos dinero, diversión y arte" - pensando en las posibilidades
de una economía creativa alternativa a partir de las experiencias del movimiento Hip-Hop en
Florianópolis
Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar las prácticas artísticas y organizativas del
movimiento Hip-Hop en Florianópolis y reflexionar sobre cómo estas prácticas pueden contribuir a la
construcción de una economía creativa alternativa en la ciudad, basándose en la perspectiva real o
sustantiva de la economía propuesta por Polanyi. En los últimos años, se ha fortalecido en Florianópolis
un discurso en torno a la economía creativa, en el que la perspectiva cultural está fuertemente orientada
hacia una idea de mercado, que tiende a excluir y marginalizar los sectores creativos, incluido el sector
cultural, que no se alinean con esta lógica. Para alcanzar el objetivo de este artículo, se realizó un
estudio de caso sobre el movimiento Hip-Hop en Florianópolis, con recolección de datos a través de
observación participante, 24 entrevistas semiestructuradas y análisis de documentos. A partir del
análisis de las prácticas artísticas y organizativas del movimiento Hip-Hop en Florianópolis, fue posible
identificar elementos que apuntan a otra forma de economía, que puede ser vista como una perspectiva
alternativa de economía creativa, distinta de la perspectiva dominante actualmente promovida en la
ciudad. Las prácticas del Hip-Hop, por otro lado, ofrecen una visión distinta, sobre todo por acercarse
a la noción sustantiva de economía, destacando aspectos como la importancia de la solidaridad, la
colectividad, el apoyo mutuo, la confianza y la posibilidad de autosostenibilidad.
Palabras clave: Hip-Hop; economía creativa; economía; alternativa económica.
“A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro, diversão e arte” –
possibilidades de uma economia criativa alternativa a partir das experiências
do movimento Hip-Hop em Florianópolis
Introdução
Nos últimos anos, a temática da
economia criativa tem estado em
evidência, figurando tanto no discurso
político a partir de iniciativas
governamentais e de organismos
internacionais, sendo traduzidas em
diferentes práticas, inclusive de
políticas públicas, quanto no discurso
acadêmico, sendo discutida em
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alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
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pesquisas e estudos nacionais e
internacionais. Enquanto países
desenvolvidos e em desenvolvimento
buscam nessa “nova” economia uma
alternativa para superar os desafios
impostos pelo processo de
desindustrialização e pela necessidade
de se reposicionar economicamente, o
debate acadêmico concentra-se em
propor discussões que ampliem o
entendimento acerca do que significa a
economia criativa, seus impactos,
limites e implicações nos mais variados
contextos.
Muito do destaque conferido à
economia criativa advém, sobretudo,
da crescente valorização e integração
de valores culturais e simbólicos em
diferentes bens e serviços passíveis de
serem comercializados, além da
expansão dos setores econômicos
culturalmente orientados, os quais vêm
assumindo um papel estratégico no que
tange ao crescimento e
desenvolvimento econômico e social
em diferentes países (Romão, 2017;
Loiola; Miguez, 2015).
Como consequência, as
indústrias da informação, da cultura e
da comunicação, em conjunto, passam
a ser percebidas enquanto motor do
crescimento econômico, culminando
em uma estratégia econômica
orientada a fomentar os diferentes
setores industriais nos quais a
criatividade desempenha um papel
central (Tremblay, 2011). O discurso
que permeia a economia criativa é o de
que a mesma traz novas oportunidades
para o reposicionamento e crescimento
de países que passaram pelo processo
de desindustrialização, ou até mesmo
aqueles que buscam o
desenvolvimento através de recursos
locais, encontrados em abundância,
como é o caso da cultura. São
exaltados seus números em torno da
contribuição para a economia, geração
de empregos e criação de renda. A
economia criativa, portanto, é
defendida como a resposta ideal para
aqueles contextos que querem atrair
produtividade, oportunidades, construir
um ambiente inovador, inclusivo,
diverso, criativo, empreendedor.
Apesar da visão positiva,
construída por parte de seus
defensores, o que se percebe é a
conformação de uma arena complexa,
heterogênea, não neutra, que articula
diferentes atores e interesses que, a
partir de suas ações, buscam significar
e preencher os sentidos acerca da
economia criativa, além de definir quais
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quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
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os setores que dela fazem parte
(Jeffcutt, 2000). A economia criativa,
nesse contexto, acaba por se constituir
em um grande guarda-chuva, que
envolve tanto o conjunto das produções
artísticas e culturais, quanto o conjunto
das produções voltados à tecnologia e
informação e das criações funcionais,
como a arquitetura e o design (Madeira,
2014).
Destarte, nesse novo marco da
economia criativa, a cultura passa a ser
entendida como mais um setor
econômico incluso no cerne da
economia de mercado, ofuscando e
excluindo concepções de cultura que
não estão, de alguma forma,
subordinadas às condições
econômicas (Castro-Higuieras, 2016;
Schlesinger, 2017). Nesses termos,
existe um interesse na cultura e em
suas manifestações,
predominantemente enquanto esta
abre possibilidades para geração de
alguma forma de resultado que possa
ser passível de apropriação e
capitalização pela economia e que,
consequentemente, resultem em
índices positivos que signifiquem
alguma forma de desenvolvimento
econômico (Parada, 2016). Porém,
parte-se neste artigo, do argumento de
que as atividades desenvolvidas pelo
setor cultural abrangem uma variedade
de práticas e dimensões econômicas
que não estão, necessariamente,
imersas na economia de mercado, seja
pelo conteúdo que está sendo
produzido ou pelas características de
quem produz (Canedo, 2019; Garland,
2012; Parada, 2016).
Tendo em vista essas
considerações e inspirado na
perspectiva real ou substantiva de
economia proposta por Polanyi (1976)
a qual pode relacionar a ideia de
economia a toda forma de produção e
distribuição de riquezas (França Filho,
2007) este artigo busca analisar as
experiências artísticas e organizativas
do movimento Hip-Hop em
Florianópolis e refletir sobre como
essas práticas podem contribuir para a
construção de uma economia criativa
alternativa na cidade.
O Hip-Hop, desde sua origem e
ao longo de seus cinquenta anos de
existência, tem se consolidado como
um movimento cultural e político que,
através de suas diversas
manifestações, assume um caráter
contestatório e promove uma reflexão
social crítica. Dentre as críticas à ordem
social mobilizadas pelo movimento,
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
tem-se reflexões acerca da exclusão
social, da opressão racial, das distintas
formas de violência e das
desigualdades econômicas, revelando
as condições de vida desiguais
enfrentadas por muitas pessoas,
especialmente entre as populações
pobres e negras (Souza, 1998;
Martinez; Franco, 2021; Silva, 1999).
Dessa forma, o Hip-Hop vem se
constituindo enquanto um movimento
que incorpora elementos que
constantemente desafiam e
questionam as hegemonias, sejam elas
de classe, raciais, culturais ou
econômicas. Tais aspectos fortalecem
o Hip-Hop enquanto uma forma de
expressão de resistência social e
cultural, crítica ao status quo e às
formas de arte dominantes. Pelo seu
caráter crítico e contestatório,
frequentemente o movimento articula
um posicionamento contrário à ideia da
cultura como mercadoria, no qual
prevalece a perspectiva de que a
produção, distribuição e consumo
cultural deve se adequar a um modelo
econômico que privilegia o mercado.
Perspectiva essa que predomina no
âmbito das construções em torno da
economia criativa, as quais se
expandiram significativamente nos
últimos anos, inclusive na cidade de
Florianópolis.
Na capital catarinense, tem se
fortalecido um discurso em torno da
economia criativa no qual a perspectiva
de cultura está fortemente orientada
para uma ideia de mercado, sendo
valorizada a partir de seu potencial em
gerar resultados econômicos e agregar
valor ao desenvolvimento e
crescimento da cidade. Na medida que
essa construção discursiva acaba se
expandindo, ela tende a marginalizar
setores criativos, incluindo o setor
cultural, que não possuem um
alinhamento à essa lógica. Isso resulta,
conforme ressaltam Silva e Teixeira
(2021), em uma tensão que se
manifesta entre a organização da
produção artística e cultural do Hip-Hop
e aquilo que os agentes econômicos e
do mercado anseiam, justamente por
não levarem necessariamente sua
atividade fim como algo que envolve a
busca pela lucratividade.
Este estudo adota uma
abordagem qualitativa, sendo um
estudo de caso focado no movimento
Hip-Hop de Florianópolis. A pesquisa
foi conduzida entre dezembro de 2022
e dezembro de 2023, com coleta de
dados por meio de observação
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
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transformações da cultura")
participante (em reuniões, grupos de
WhatsApp e eventos culturais), 24
entrevistas semiestruturadas e análise
de documentos (notícias, publicações
em redes sociais, conversas em grupos
de WhatsApp). A análise dos dados foi
realizada com base na análise do
discurso, uma vez que todas as
práticas sociais m um caráter
discursivo. A análise do discurso refere-
se justamente à prática de analisar
matérias-primas e informações
empíricas como formas discursivas”
(Howarth; Stavrakakis, 2000, p. 6).
Economia criativa considerações
sobre a relação entre cultura e
economia
Ainda que a cultura esteja cada
vez mais presente nas diversas esferas
da vida social é, contudo, na sua
relação com a dimensão econômica
que tem havido um crescente interesse,
sendo objeto de atenção privilegiada de
estudos científicos, bem como de police
makers (Miguez, 2007). É, conforme
Miguez (2007), a partir desse ponto de
vista que deve ser compreendida a
emergência da economia e das
indústrias criativas, “duas expressões
contemporâneas mais potentes que
representam o enlace entre cultura e
economia” (p. 96).
Mesmo que o interesse da
economia no campo da cultura não seja
algo recente (Miguez, 2007, Parada,
2016; Canedo; Dantas, 2016) é,
contudo, a partir dos anos 1990 que
esse debate é renovado com a
emergência de um novo deslocamento
provocado por força de uma novidade
advinda do contexto anglófono
(Miguez, 2009). Trata-se da noção de
economia criativa, a qual articula, nos
discursos acerca do desenvolvimento
econômico, social e urbano, a cultura
juntamente com a criatividade (Canedo;
Dantas, 2016).
Ao olhar para estudos que vêm
sendo desenvolvidos em torno da
cultura e economia criativa (Fahmi;
Mccann; Koster, 2017; Klaus, 2008;
Skavronska, 2017; Canaan, 2019;
Flew; Kirkwood, 2021; Procopiuck;
Freder, 2020; Santos; Gonçalves;
Simões, 2019) percebe-se que muitos
deles reproduzem uma visão de cultura
e de economia criativa fortemente
centrada na ideia de negócios, a partir
de um posicionamento e de uma
argumentação pautados em uma
perspectiva econômica, voltada ao
desenvolvimento. A cultura e a
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transformações da cultura")
criatividade, assim, tornam-se insumos
para gerar resultados econômicos,
perpassados por uma racionalidade
instrumental-formal.
Especificamente a cultura,
nesses termos, se torna útil nas
estratégias de renovação urbana, no
aumento da competitividade e da
reputação de territórios e no fomento ao
turismo. Contribui para o
desenvolvimento sustentável de
regiões, proporciona entretenimento e
fomenta o consumo, gerando efeitos de
emprego e renda. Explora-se o
potencial da cultura em gerar novas
formas de crescimento econômico. No
âmbito da economia criativa, tais
estudos privilegiam o valor econômico,
comercial, financeiro que a cultura é
capaz de agregar à produção
capitalista, em detrimento de outras
formas de valor. Argumenta-se,
portanto, que, mais do que nunca, com
a emergência da economia criativa, a
cultura tem sido vista enquanto um
setor econômico em crescimento, que
gera emprego, riqueza e
desenvolvimento (Greffe, 2015).
Conforme aponta Canedo
(2019), ao mesmo tempo em que os
números relacionados à economia
criativa buscam demonstrar a
potencialidade dos setores criativos
para a economia, também acabam por
associar as organizações deste meio à
modelos de negócio imersos no modelo
de produção capitalista. Ou seja, as
práticas que têm prevalecido no âmbito
da economia criativa, assim como
também no campo dos estudos da
economia da cultura, refletem e
reforçam os domínios e métodos da
economia contemporânea de mercado,
sobretudo no que concerne à
preponderância do paradigma
neoclássico, hegemônico na economia
(Throsby, 2003).
Porém, conforme argumenta
Reis (2009), a economia não está
restrita ao mercado. Como
consequência, as dimensões
econômicas presentes no âmbito das
organizações culturais que fazem parte
da economia criativa são múltiplas, não
sendo pautadas única e
exclusivamente pelo modelo capitalista
de produção e por uma economia de
mercado (Canedo, 2019).
Pode-se pensar, assim, na
existência de outros princípios
econômicos que impulsionam o
desenvolvimento das atividades que
englobam o campo da cultura, o
orientados exclusivamente pelo lucro,
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
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transformações da cultura")
mas por princípios como reciprocidade,
solidariedade, respeito, participação,
autonomia, etc. (Silva et al., 2011).
Frente a isso, defende-se que é
possível pensar em alternativas que
desafiem essa visão restrita, adotando,
para tanto, uma visão econômica mais
ampla, que leve em consideração
outros fatores envolvidos nas
atividades em torno da economia
criativa. É nesse contexto que se busca
ressaltar algumas das contribuições de
Karl Polanyi para o desenvolvimento do
pensamento econômico, com o objetivo
de expandir a noção de economia para
além de tomá-la apenas como sinônimo
de mercado.
Para além da economia de mercado
as ideias de Karl Polanyi
No cerne do pensamento de
Polanyi, reside a crítica à centralidade
do mercado na sociedade, a partir da
qual o autor destaca a ausência de
economias dirigidas pelo mercado em
momentos anteriores à Revolução
Industrial (Silva et al., 2011). Salienta
Polanyi:
Todos os tipos de sociedades
são limitados por fatores
econômicos. Somente a
civilização do século XIX foi
econômica em um sentido
diferente e distinto, pois ela
escolheu basear-se num
motivo muito raramente
reconhecido como válido na
história das sociedades
humanas e, certamente nunca
antes elevado ao nível de uma
justificativa de ação e
comportamento na vida
cotidiana, a saber, o lucro
(2000, p. 47).
De acordo com Polanyi (2000),
nesse sistema de mercado, em vez de
a economia estar embutida nas
relações sociais, são as relações
sociais que estão embutidas no sistema
econômico. A partir do século XIX, o
que ocorre, de acordo com o autor, são
mudanças nas estruturas institucionais
e no imaginário social que levam à uma
relativa desvinculação e
autonomização da esfera econômica
do tecido social, resultando na
conformação de uma sociedade de
mercado (Schneider; Escher, 2011).
Deste modo, como expõe Polanyi
(2000, p. 77), “o controle do sistema
econômico pelo mercado é
consequência fundamental para toda a
organização da sociedade: significa,
nada menos, dirigir a sociedade como
se fosse um acessório do mercado”.
Uma sociedade de mercado é,
portanto, um tipo único e sem
precedentes históricos de organização
social, imprescindível para o
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desenvolvimento de uma economia de
mercado. Polanyi entende uma
economia de mercado enquanto “um
sistema autorregulável de mercados;
[...] uma economia dirigida pelos preços
do mercado e nada além dos preços do
mercado” (2000, p. 59). Continua o
autor que, o advento da sociedade de
mercado não seria possível sem que
“terra, trabalho e dinheiro” fossem
transformados, de forma forçada e
fictícia, em mercadorias. Assim:
Uma economia de mercado
deve compreender todos os
componentes da indústria,
incluindo trabalho, terra e
dinheiro. [...] Acontece, porém,
que o trabalho e a terra nada
mais são do que os próprios
seres humanos nos quais
consistem todas as
sociedades, e o ambiente
natural no qual elas existem.
Incluí-los no mecanismo de
mercado significa subordinar a
substância da própria
sociedade às leis do mercado.
[...] O trabalho, a terra e o
dinheiro obviamente não são
mercadorias (Polanyi, 2000, p.
93).
Deste modo, não somente
produtos finais, mas o processo que
envolve sua produção e a reprodução
social dos indivíduos, os quais
necessitam vender sua força de
trabalho para alcance da sobrevivência,
ficam condicionados ao mecanismo do
mercado (Schneider; Escher, 2011).
Infere-se, portanto, a partir do
pensamento de Polanyi, que toda
sociedade acaba por ser modelada
para que o sistema opere conforme as
leis da economia de mercado. É,
ademais, esse o “[...] significado da
afirmação familiar de que uma
economia de mercado pode
funcionar numa sociedade de mercado”
(Polanyi, 2000, p. 77). Porém, essa
maneira de entender a economia a
partir da predominância do mercado,
que encontra amparo em uma definição
formalista de economia, acaba
tornando-se reducionista que: a)
parte do pressuposto da escassez; b)
pressupõe que o comportamento dos
indivíduos é guiado a partir de um
cálculo utilitário das consequências
(França Filho, 2007). Esse
reducionismo acaba por impedir “[...] a
ampliação da compreensão do que seja
o ato econômico e de seu sentido para
a vida em sociedade, na direção de sua
ressignificação enquanto forma de
produzir e distribuir riquezas” (França
Filho, 2007, p. 7).
Pode-se pensar, assim, em uma
alternativa que se aproxime da
concepção de uma economia real ou
243
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substantiva, como vão chamar alguns
autores (Godelier, 1976; França Filho,
2007; Schneider; Escher, 2011) ,
conforme destacado por Polanyi
(1976). O significado dessa visão de
economia advém “da dependência que
se encontra o homem com respeito a
natureza e a seus semelhantes para
conseguir o sustento. Se refere ao
intercâmbio com o entorno natural e
social, na medida em que é esta
atividade a que propicia os meios para
satisfazer as necessidades materiais”
(Polanyi, 1976, p. 289). A economia,
portanto, é pensada enquanto um
processo instituído em dois níveis: i)
referente à interação estabelecida entre
o indivíduo e seu ambiente natural e
social; b) referente a institucionalização
desse processo (Machado, 2012).
A concepção substantiva da
economia deriva sobretudo do
reconhecimento, por parte de Polanyi,
das diferentes formas de “fazer
economia” de produzir e distribuir
riquezas que existiram/existem longo
da história, nas distintas culturas
humanas, ou seja, dos diferentes
princípios do comportamento
econômico, a saber: a reciprocidade
(relacionada ao padrão institucional de
simetria), redistribuição (relacionada ao
padrão institucional de centralidade) e
intercâmbio (relacionada ao padrão
institucional de mercado).
Tais princípios históricos podem
ser resumidos, conforme descreve
França Filho (2007) com base em
Laville (1994), em três distintas formas
de economia, tendo em vista seu
rearranjo na modernidade. Nesse
sentido, a economia permite: a) uma
economia de mercado: toma como
base o mercado autorregulado e está
baseada nas trocas impessoais e na
equivalência monetária; b) uma
economia não mercantil: fundada no
princípio da redistribuição e baseada
em relações de trocas verticalizadas e
pelo seu viés obrigatório; c) economia
não monetária: orientada pela lógica da
dádiva (dar, receber e retribuir), pelo
princípio da reciprocidade.
Frente ao exposto, optou-se,
neste artigo, por adotar essa
concepção de economia plural, a qual
se desdobra da concepção substantiva
(real) da economia desenvolvida por
Polanyi (1976) e que abrange uma
variedade de maneiras de produzir e
distribuir riquezas (França Filho, 2007).
Essa forma de compreender a
economia, segundo França Filho
(2007), permite “ampliar o olhar sobre o
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
econômico para além da visão
dominante, que reduz seu significado à
ideia de economia de mercado,
permitindo, ainda, perceber certas
singularidades” (p. 161). Busca-se,
portanto, a partir desse trabalho,
produzir uma imagem mais complexa e
socialmente incorporada da cultura no
âmbito da economia criativa
contemporânea, a partir da qual leva-se
em consideração valores mais do que
capitalistas (Luckman, 2018). É nesse
contexto que o movimento Hip-Hop
parece se constituir em uma dessas
possibilidades alternativas no campo
cultural.
Situando o movimento Hip-Hop do
Bronx à Florianópolis e a sua relação
com a economia criativa na cidade
O Hip-Hop emerge no final dos
anos 1970, em Nova Iorque, no Bronx.
Seu surgimento está atrelado a um
contexto social de profundas
modificações no cenário urbano das
grandes metrópoles, ocasionadas pelo
período pós-industrial (Rose, 1994).
Mudança nas estruturas e
oportunidades de emprego,
exacerbação da discriminação (raça e
gênero) e aumento da população em
situação de vulnerabilidade social e
econômica foram algumas das
consequências trazidas pela
desindustrialização (Rose, 1994). É
nesse cenário de acirramento das
desigualdades, que impactaram,
sobretudo, a população afro-
americana, latino-americana e
caribenha, que o Hip-Hop emerge,
dando voz às tensões sociais e
contradições presentes na paisagem
urbana de Nova Iorque (Rose, 1994).
Por meio da música (rap), da
dança (breaking) e das artes gráficas
(graffiti), o Hip-Hop foi se firmando
enquanto um movimento artístico,
cultural e político, ligado sobretudo à
juventude negra e periférica, que utiliza
o espaço da rua como palco das suas
manifestações e como instrumento de
denúncia das desigualdades e de luta
por melhores condições de vida. É arte
engajada construída por meio de um
movimento que, através de
mecanismos culturais de intervenção
que valorizam o autoconhecimento,
traz à tona críticas à ordem social, ao
racismo estrutural, à forma como a
história foi sendo oficialmente
construída (Silva, 1999).
Ainda que o Hip-Hop, através
das suas diferentes manifestações,
envolva aspectos associados à
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
economia e ao mercado, ele abrange,
também, muitas características que se
distanciam dessa lógica. O movimento
Hip-Hop, constitui- se, por exemplo,
enquanto um ampliador das noções
convencionais de cidadania e
democracia, envolve espontaneidade e
liberdade de criação, preza por
princípios coletivos e pelo
protagonismo dos agentes culturais,
traz a ideia de transformação, de
criação de espaços de sociabilidade e
pertencimento, além de ter um
envolvimento político explícito,
sobretudo ao abordar questões de
raça, de classe e de gênero (Félix,
2018; Souza, 2016; Silva; Teixeira,
2021).
Existe, conforme ressaltam Silva
e Teixeira (2021), uma tensão que se
manifesta entre a organização da
produção artística e cultural do Hip-Hop
e aquilo que os agentes econômicos e
do mercado anseiam, justamente por
não levarem necessariamente sua
atividade fim como algo econômico,
que envolve a busca pela lucratividade.
Além disso, as expressões do Hip-Hop
muitas vezes fogem dos padrões
artísticos, estéticos e comerciais
convencionais e socialmente
construídos, sendo considerada por
muitos uma “cultura marginal”.
Importante mencionar que ao
longo do seu desenvolvimento, os
elementos centrais do Hip-Hop foram,
também, sendo desterritorializados e
levados para diversas metrópoles.
Através dos diferentes meios, o Hip-
Hop se espalhou pelo mundo,
alcançando jovens que passaram a
reinterpretar suas vivências cotidianas
em suas realidades a partir das práticas
e símbolos culturais gestados em
outros contextos (Silva, 1999). É assim
que o Hip-Hop chega ao Brasil, em São
Paulo, nos anos 1980. De acordo com
Félix (2018), o Hip-Hop foi aos poucos
sendo traduzido no contexto brasileiro,
chegando primeiro nos bailes black,
ganhando, posteriormente, as ruas
principalmente através do breaking.
Cabe destacar ainda, segundo o autor,
que sua emergência no contexto
brasileiro se deu de forma parcelada,
ou seja, seus elementos foram sendo
adotados pelas pessoas sem que
fossem feitas muitas ligações ou
relações com o que vinha sendo
praticado, por exemplo, em termos de
dança nos bailes black. Ademais, o Hip-
Hop brasileiro foi lentamente
assumindo seu papel contestador
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
político e racial mais explícito,
prevalecendo, no início, um caráter
mais cultural e de lazer.
Especificamente no contexto de
Florianópolis, o Hip-Hop surge a partir
do final dos anos 1980 sobretudo a
partir do rap (Souza, 1998) e,
atualmente, se encontra bastante
difundido na cidade. Mesmo que a cena
no Hip-Hop de Florianópolis esteja
ainda em desenvolvimento, se
comparada com outras capitais,
percebe-se que uma busca por
ocupar espaços e marcar a presença
desse movimento no cotidiano da
cidade.
É, portanto, um movimento
urbano, que atrai jovens, em sua
maioria negros e moradores da
periferia, de Florianópolis, do Estado de
Santa Catarina, não sendo raro
encontrar também jovens de outros
estados. O palco é a rua, as praças, os
terminais e os ônibus. A ocupação da
cidade de diferentes maneiras é uma
característica marcante, seja através
das batalhas de rima, de batalhas de
poesias, de competições de breaking
ou pelos graffitis nos muros da cidade.
Atualmente estima-se que
existam aproximadamente vinte pontos
na cidade que promovem a cultura Hip-
Hop, os quais reúnem grupos de vinte
a cem pessoas. Tais encontros
caracterizam-se por serem realizados
semanalmente, em dias diversos, bem
como em diferentes pontos da cidade.
Além disso, essas atividades se
caracterizam por atraírem um público
que participa de forma espontânea. As
atividades normalmente são
organizadas e produzidas de forma
independente, em geral sem apoio do
poder público, utilizando-se dos
recursos disponíveis no local. É,
portanto, um movimento independente,
inclusivo, que acontece e se justifica
através da ocupação dos espaços
urbanos, por meio de intervenções e
ações coletivas culturais e de caráter
educativo.
Diante do crescimento do
movimento e da sua expressão nos
espaços públicos da cidade,
consequentemente ele acaba se
tornando mais visível, diferenciando-se,
tanto pelo comportamento, quanto pelo
padrão estético que criam e utilizam
(Souza, 2009). Importante mencionar
que a expansão do movimento por
Florianópolis ocorre em paralelo com o
desenvolvimento de um projeto que
busca direcionar as estratégias de
desenvolvimento da cidade com foco
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
na economia criativa. Esse projeto cria
uma representação da cidade que
invisibiliza certos grupos de acordo com
seus interesses, especialmente
aqueles que desafiam a ordem social
estabelecida, como é o caso do Hip-
Hop (Souza, 2009).
Nos últimos anos, Florianópolis
tem se destacado no cenário da
economia criativa nacional. Isso se
deve, em grande parte, ao seu
desenvolvimento tecnológico e
inovador, que a levou a ser
reconhecida, inclusive, como a Ilha do
Silício da América Latina. Em
decorrência disso, a cidade acaba se
destacando em diversos índices e
rankings voltados à economia criativa,
como na recente publicação do Índice
de Desenvolvimento Potencial da
Economia Criativa (IDPEC), em que
figura em primeiro lugar entre as
capitais brasileiras analisadas.
Desde 2014, Florianópolis faz
parte da Rede de Cidades Criativas da
UNESCO, sendo a primeira cidade
brasileira a ganhar a chancela na área
da gastronomia. É neste contexto
também que surge, em 2020, a Rede
de Economia Criativa de Florianópolis,
criada com objetivo de buscar apoio e
fomento às políticas públicas das
atividades da economia criativa.
Além dessas, outras iniciativas
vêm sendo implementadas com intuito
de fomentar a economia criativa na
cidade, as quais se caracterizam pela
defesa dos benefícios gerados através
do seu fomento, sobretudo aqueles
relacionados aos resultados
econômicos e suas contribuições para
o crescimento e desenvolvimento para
a cidade. Percebe-se que o discurso da
economia criativa que vem sendo
hegemonicamente construído em
Florianópolis está pautado na
valorização econômica da criatividade,
sendo a mesma defendida enquanto
um importante vetor de crescimento e
desenvolvimento econômico. Nesses
termos, a economia criativa acaba
estando associada à lógica de
mercado, que privilegia investimentos
em setores que geram lucro e
incentivam a competitividade. Tem-se a
predominância de uma visão de
economia voltada para o mercado, que
se concentra na ideia de oferta e
demanda, que enfatiza a importância
da concorrência e da propriedade
privada e o fomento de organizações,
como salienta Canedo (2019),
orientadas ao mercado e
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
fundamentadas em um modelo de
produção capitalista.
Ainda que se tenha essa
construção sobre a ideia de economia
criativa dominante na cidade, a mesma
não está isenta de questionamentos e
resistências. É nesse contexto que
emerge o papel que a cultura
desempenha, que ela pode ser
identificada como um dos elementos
que está articulado e que faz parte da
economia criativa.
Assim, passou-se a pensar
sobre a possibilidade de existência de
uma alternativa cultural a partir do
estudo do movimento Hip-Hop no
cenário da economia criativa em
Florianópolis, analisando aspectos
como: ideia de valor cultural,
motivações, dinâmicas de organização
e execução das atividades, mobilização
de pessoas, experiências de trocas,
distribuição de tarefas e funções,
tomada de decisão, mobilização de
recursos e estrutura de apoio e
recompensas.
Articulando alternativas à economia
criativa dominante a partir do
movimento Hip-Hop de Florianópolis
Especificamente no contexto do
Hip-Hop de Florianópolis, diversas
manifestações artísticas e culturais,
como as batalhas de rima e de poesia
e a organização de eventos em torno do
graffiti, podem servir de exemplo de
como o movimento pode representar
outra perspectiva de economia criativa.
Um primeiro aspecto a ser analisado
refere-se a forma como se percebe o
valor que a cultura Hip-Hop gera e
transmite. Nesse sentido, as
manifestações artísticas e culturais do
Hip-Hop não proporcionam um
espaço para colocar em prática versos
e expandir repertórios, como servem
como plataforma para a troca de
experiências e capacitação.
Além da importância de tais
manifestações para a vivência e
promoção em torno da cultura Hip-Hop,
elas acabam tornando-se um espaço
de construção de rede de apoio e
acolhimento, de desenvolvimento
pessoal e profissional e de construção
de novas sociabilidades. Nesse
sentido, as manifestações do Hip-Hop
acabam tornando-se espaços de
inclusão e participação coletiva ligadas
ao território. A fala do entrevistado
Visão de Futuro expressa a importância
desses espaços criados pelo
movimento:
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
[...] além de ser um movimento
cultural que enriquece a saúde
da comunidade, que o
espaço da gente poder falar
aquilo que muitas vezes está
trancafiado, que a gente não
sente a liberdade, que a
sociedade não pra gente,
toda hora oprimido, toda hora
alguém vai estar apontando um
dedo pra você. Na batalha isso
meio que se dissipa. A gente
acaba vendo as pessoas se
sentindo à vontade pra poder
falar coisas que não sentem,
pra poder, como a gente usa o
termo, explanar situações que
são mais sensíveis, que muitas
vezes as pessoas não vão dar
bola, não vão escutar (Visão de
Futuro).
Prevalece nesses encontros do
Hip-Hop pela cidade, a valorização dos
artistas locais, a divulgação dos
trabalhos desses artistas, o
compartilhamento de experiências e
vivências, o lugar de protagonismo de
quem faz a cultura acontecer os quais
são, na maioria das vezes, jovens
negros e que vivem em locais
periféricos, além de ser um espaço de
criação de vínculos e sociabilidade.
No que tange às motivações
para realização das manifestações,
aspectos como a criação de uma
cultura do pertencimento, a
aprendizagem compartilhada, a
promoção de interesses coletivos e do
bem comum são aspectos motivadores
que permeiam a realização das
manifestações artísticas e culturais
coletivas no âmbito do Hip-Hop da
cidade.
São levados em consideração
outros fatores que orbitam a economia
criativa que estão muito mais
relacionados à dimensão social (como
a solidariedade, coletividade,
pertencimento, crescimento mútuo) que
vão além da lógica de mercado
predominante e da motivação pelo
lucro. Na lógica da noção substantiva
de economia, como desenvolvido por
Polanyi (1976), a prioridade está na
satisfação das necessidades humanas
e sociais, com foco no bem-estar e na
integração social. No caso do Hip-Hop,
destacam-se valores e motivações que
se aproximam mais com a conformação
de uma noção substantiva de
economia, não monetária (França
Filho, 2007) do que com a de mercado.
As atividades artísticas e culturais do
Hip-Hop funcionam mais como espaço
onde as pessoas fortalecem laços e
desenvolvem um senso de
pertencimento e de comunidade, do
que a ideia de competição, de
eficiência, de priorização dos
interesses individuais e da busca por
alcançar o lucro.
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Outro fator importante a ser
destacado refere-se ao fato de que a
organização e a realização das
manifestações artísticas e culturais em
torno do Hip-Hop na cidade também
revela uma dinâmica de como as
atividades são organizadas e
executadas que valoriza aspectos
como a colaboração, autossuficiência e
o engajamento comunitário e não
necessariamente a ideia em torno da
construção de empreendimentos com
fins utilitários e que buscam a
lucratividade (França Filho, 2007).
É comum a existência de
práticas de troca não monetárias e da
solidariedade na realização das
manifestações artísticas e culturais, as
quais são concretizadas através de, por
exemplo, participação de artistas do
Hip-Hop de forma colaborativa e troca
de serviços, sobretudo entre membros
do movimento. Na fala abaixo tem-se
um exemplo prático da dinâmica de
funcionamento da organização das
manifestações do Hip-Hop, com
destaque para a colaboração e esforço
coletivo:
[...] Cada um gira um
pouquinho, eu trago uma caixa
de som, empresto uma
extensão para o vizinho. A
[inaudível] ali com as planilhas,
com os canetões da TAG,
organiza a documentação. E é
um pouquinho de cada, sabe?
A gente vai no mercado,
compra uma água para os MC
que vem rimar. E é isso, o
movimento. E um pouquinho de
cada um já soma, e a gente faz
acontecer. A gente não tem o
recurso, porque muitas vezes
os empresários, a galera que
tem dinheiro estão tirando da
onde era para acontecer. A
gente vai e busca e faz
acontecer (Sonho em Verso).
No movimento Hip-Hop é
possível perceber que muitas
atividades se baseiam e funcionam a
partir de uma aproximação com a lógica
da diva (dar, receber e retribuir). Isso
pode ser percebido ao se analisar a
questão da mobilização de pessoas. Os
participantes costumam contribuir para
o movimento sem necessariamente
esperar um retorno financeiro como
contrapartida. Em vez disso, se
envolvem pensando no bem-estar
coletivo e no impacto positivo que
podem gerar. A reciprocidade, princípio
descrito por Polanyi (1976), torna-se
um elemento fundamental nas
interações no movimento. As atividades
do Hip-Hop, em geral, são produzidas
de forma independente, sem patrocínio
ou apoio do poder público, e realizadas
por um grupo de pessoas que atuam de
forma voluntária, sem receber
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
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alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
nenhuma forma de recompensa
monetária.
Além disso, é comum perceber a
criação de uma rede de apoio em que
são abertos espaços nas
manifestações para, por exemplo,
contribuição voluntária e divulgação de
trabalhos artísticos de membros do
movimento, em que o retorno pode vir
em termos do desenvolvimento de
parcerias ou colaborações, seja na
divulgação de eventos, reconhecimento
ou apoio nas atividades culturais. A fala
de uma das entrevistadas ilustra esses
elementos, ressaltando que muitas
contribuições são feitas como forma de
reconhecimento do trabalho de quem
também se dedica para as atividades
do movimento:
A gente fala assim: se você
nunca perdeu nada para o rap,
você nunca vai ganhar. [...] É
uma necessidade, né? De
quem realmente constrói o
movimento Hip-Hop. E as
pessoas que constroem o
movimento elas são muito
criativas nessa forma de buscar
um autossustento. Isso acaba
se tornando realmente uma
rede, né? Então tem a amiga
que vende paçoca, tem o cara
que vende o CD dele. [...] Então
a galera acha diversas formas
de conseguir monetizar o seu
corre que não seja só a música
para conseguir sobreviver
(Verso Urbano).
Além disso, é possível perceber
que a colaboração e o apoio mútuo
também são comuns ao olhar para as
experiências de trocas criadas, a partir
das quais percebe-se a prevalência da
formação de uma rede de fomento
econômico, onde os próprios
participantes colaboram com o sustento
e a manutenção das atividades de
outros. Uma rede de trocas entre os
participantes que não se baseia
unicamente em termos de trocas
monetárias, mas na formação de um
sistema colaborativo e solidário. Um
esforço coletivo que acaba, como
salientado por França Filho (2007),
estimulando todo um circuito de
relações socioeconômicas locais que
envolvem uma lógica de rede. A fala
abaixo ilustra como uma atividade em
torno do Hip-Hop pode mobilizar uma
pluralidade de iniciativas econômicas
que vão desde a comercialização de
produtos até a ajuda mútua entre os
participantes.
É uma coisa que a gente gera
de dentro pra fora pra que as
coisas aconteçam. Porque,
tipo, um evento que rola
movimenta toda uma
quebrada, entendeu? Então, é
a tiazinha que vai vender uma
cerveja, é a mina que na
faculdade e precisa pagar as
contas [...] então, é tudo um
pouco e a gente vai se
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
fortalecendo. Porque não tem
essa coisa, tipo assim, você
não pode fazer. Ou você não
pode colocar a tua barraca
aqui, ou você não... Tudo é
liberado, você fazer, você
vender, você chegar, né?
Porque é um movimento
coletivo e a gente se sente à
vontade pra fazer esse
escambo, né? Que acaba
sendo uma troca (Poesia
Valente).
Em termos de gestão das
atividades, percebe-se a prevalência da
gestão colaborativa viabilizada por
meio de uma estrutura horizontal onde
os recursos e conhecimentos são
compartilhados, sem a existência de
uma hierarquia ou concentração de
poder e de recursos, como comumente
são observados em organizações
empresariais.
Pode-se observar também que
se adota uma abordagem de gestão
mais flexível, menos estruturada, sem
muitas normas ou processos
estabelecidos e padronizados, com
maior abertura para adaptações, sem
um planejamento muito rigoroso. Em
termos de distribuição de tarefas e
funções, pode-se perceber que as
mesmas são realizadas pelos próprios
organizadores que contam, por vezes,
com a colaboração pontual de
participantes externos em atividades
específicas e especializadas, como, por
exemplo, na função de DJ. É comum
que as pessoas envolvidas na
organização assumam diversas
funções conforme necessário e de
acordo com a disponibilidade de cada
um, sem a existência de uma divisão
clara e formal de papéis e funções.
em termos de tomada de
decisão, elas comumente ocorrem a
partir do consenso diante de
discussões abertas e colaborativas
entre organizadores de eventos. Como
ressalta a entrevistada Verbo Sincero
“[...] Entrar num consenso geral é bem
difícil, é óbvio, porque são vários
pensamentos, são várias pessoas,
mentalidades diferentes, vivências
diferentes, mas a gente sempre tenta
ser ao máximo, o mais compreensível
possível, o mais tranquilo”.
Alguns desses aspectos podem
ser observados nas falas abaixo de
entrevistados envolvidos com
organização de atividades e ilustram
uma forma de organizar guiada pela
cooperação e pela colaboração
coletiva:
Então, nosso grupo de
organização, a gente lança as
ideias, sempre reunião, todo
mundo em conjunto. Nunca
tem ninguém em cima de
ninguém. Aí a nossa divisão de
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
tarefas sempre fica entre o
mestre de cerimônia, quem vai
ajudar a carregar os
equipamentos. [...] Quem tá no
movimento tá porque quer, não
é porque é obrigado por estar
pago. E se é pago, estourou
(Verso Vivo).
[...] a gente é uma equipe, a
gente preza muito pela
equidade das funções. Então o
que eu sei fazer qualquer uma
da organização, e não da
organização, mas que se
disponha do público, pode
fazer também, desde
apresentar uma batalha, fazer
uma folhinha de chave, rimar
também, fazer poesias na rua
declama (Visão de Futuro).
Outra característica presente
nas manifestações do Hip-Hop está
relacionada à mobilização de recursos
e se refere à autossuficiência na
manutenção e sustento das atividades,
tanto em termos financeiros quanto em
termos de estrutura. As atividades são
promovidas sem depender de grandes
financiamentos, patrocínios ou
estruturas econômicas convencionais.
Em muitos casos, os recursos
financeiros são provenientes de
contribuições espontâneas feitas
através de doações dos próprios
membros, da comercialização de
produtos ou por meio da arrecadação
de dinheiro de forma coletiva (rifas,
passar chapéu). No que tange aos
recursos materiais e estruturais, faz-se
o uso daquilo que se tem disponível,
tanto em termos da utilização dos
espaços públicos e sua infraestrutura,
como também a utilização de
equipamentos emprestados e auxílio
de voluntários, que o recurso
financeiro para custeio de compra de
equipamentos, aluguel de espaço ou
pagamento de salários é escasso.
Abaixo, a fala ilustra algumas
estratégias utilizadas para viabilizar
financeiramente e operacionalmente as
manifestações do Hip-Hop:
Financeiramente, a gente é se
vira. A gente pede colaboração,
quem quiser apoiar, apoia. Se
não, a gente um jeito de
levantar uma grana, vende
salgado, faz alguma coisa. Mas
o importante é sempre estar
girando. Querendo ou não, é
isso que alimenta, ligado? É
por uma causa. A gente
sempre tem que dar um jeito.
Se não for com grana
envolvida, que seja. Vai ser
com contribuição do cara que
colabora, que está sempre
junto. Então, premiações, a
gente sempre um jeito de
viabilizar. Se não a gente faz
uma rifa pra levantar grana, a
gente sempre algum jeito.
Porque, como eu falei, é a
ação, é o fato de querer fazer é
o que consegue (Verso Vivo).
A lógica do improviso acaba
ganhando certo protagonismo no modo
de gerenciar os recursos necessários à
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
concretização das atividades, sendo a
capacidade de “se virar” uma das
manifestações da autossuficiência das
atividades.
A utilização de práticas de
colaboração e auxílio mútuo acabam
tornando-se também expressões da
lógica da dádiva e da reciprocidade,
cujo objetivo é a continuidade das
atividades. As práticas de “se virar” ou
de “dar um jeito”, é um reflexo da
priorização do bem coletivo, da “causa”
maior, ao invés da garantia da
satisfação das necessidades
individuais ou do lucro. Em uma noção
substantiva de economia, as atividades
econômicas são adaptadas visando
atender necessidades coletivas, não
pela lógica do mercado.
Outro aspecto importante refere-
se às estruturas de apoio e
recompensas. São poucos os membros
que conseguem viver e se sustentar
financeiramente a partir das atividades
no Hip-Hop, sendo, muitas vezes,
necessário o envolvimento em outras
atividades profissionais. Alguns até
conseguem receber alguma
remuneração (através de shows, graffiti
comercial etc.) mas, na maior parte das
vezes, a remuneração não é suficiente
para tornar-se a principal fonte de
renda. Nesse sentido, a motivação está
muito mais relacionada ao afeto e
gratidão pela cultura e pela vontade de
contribuir para o desenvolvimento do
movimento do que pelo retorno
financeiro. A fala de Ritmo da Rua
mostra o quanto o envolvimento com o
Hip-Hop é frequentemente traduzido
em termos de motivação afetiva, do que
necessariamente pelo retorno
financeiro:
É, um faça você mesmo né. [...]
Mas acho que depois de um
tempo como organização, tu
acaba notando que isso
deveria ser um trabalho
remunerado. Porque somos
agentes culturais, a gente
fazendo a cena local de
Florianópolis. E não
recebendo nada. Bom, a gente
recebendo, porque é uma
baita troca. A gente sente muito
satisfeito e a gente recebe,
assim, todo um carinho
também de várias minas. Acho
que o que paga, assim, é a
gente ver... Ah, foi a primeira
vez que eu rimei. [..] Então
essas coisas acabam sendo
uma forma de estímulo, assim,
pra gente continuar (Ritmo da
Rua).
Outrossim, é importante
mencionar que a desvalorização,
informalidade e precariedade que
predomina no âmbito do trabalho
artístico e cultural no Hip-Hop acaba,
inclusive, dificultando o
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.234-259, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
reconhecimento do trabalho artístico e
cultural como uma forma de trabalho
legítima.
Considerações Finais
Tendo em vista os aspectos
mencionados, que refletem dimensões
da economia criativa do Hip-Hop em
Florianópolis, é possível identificar
elementos que apontam para uma
outra forma de economia, que pode ser
vista como uma perspectiva alternativa
de economia criativa. As práticas do
Hip-Hop oferecem uma visão distinta
sobretudo por se aproximarem da
noção substantiva de economia,
destacando aspectos como a
importância da solidariedade,
coletividade, apoio mútuo, confiança e
possibilidade de autossustentação.
Não se nega a presença de
práticas próximas a uma economia de
mercado por parte de algumas
manifestações do movimento, no
entanto as práticas criativas e culturais
promovidas não são orientadas
fundamentalmente pelo lucro. O Hip-
Hop ilustra a possibilidade de
existência de organizações e atividades
em torno de uma economia nas quais
os indivíduos participam
voluntariamente, sem serem guiados
necessariamente por motivações
racionais instrumentais, mas na busca
pelo fortalecimento dos laços sociais,
reconhecimento, troca de afetos e bem-
estar. Além disso, a experiência
salienta a existência de organizações
que surgem e se sustentam a partir de
iniciativas coletivas e que envolvem
atividades econômicas sem possuir
necessariamente como objetivo de sua
existência a acumulação para benefício
de poucos. A presença da lógica da
dádiva manifestada a partir das trocas
não monetárias e das práticas de
solidariedade e coletividade que
fortalecem a ideia de apoio mútuo e
crescimento conjunto também são
representativas para pensar uma
concepção substantiva de economia
criativa alternativa nesse meio.
A criatividade, no Hip-Hop em
Florianópolis, se manifesta não
somente através da prática artística
contestatória, mas também nas
distintas formas de se buscar gerar
renda, de financiar e sustentar as suas
atividades, na adaptação para
utilização dos recursos disponíveis,
entre outros. Muitas vezes, a realidade
que circunda as atividades artísticas e
culturais do Hip-Hop e suas práticas
econômicas baseadas no improviso, na
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FRANZ, Alice, DELLAGNELO, Eloise. “A gente não quer só dinheiro, a gente
quer dinheiro, diversão e arte” - possibilidades de uma economia criativa
alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em
Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
adaptação, na informalidade, na
construção coletiva e na ajuda mútua,
distancia-se da visão mercadológica e
comercial preconizada pela visão
dominante em torno da economia
criativa. Tal fato retrata uma distorção
entre o valor e a importância das
práticas culturais locais e a maneira
como essas práticas o percebidas
num contexto mais amplo da cidade.
Ao aproximar a perspectiva
substantiva da economia de Polanyi
(1976) à economia criativa a partir da
experiência do Hip-Hop, percebe-se
que existe um esforço na tentativa de
articular uma noção mais ampliada de
economia que incorpora um conjunto
de práticas que envolvem a troca, a
produção e o consumo baseados em
princípios outros, alheios à lógica da
economia de mercado (França Filho,
2007). Assim, a análise da experiência
do Hip-Hop convida a refletir acerca
das limitações e exclusões geradas
pelo modelo dominante de economia
criativa que vem sendo construído na
cidade, que tende a priorizar e
favorecer setores e manifestações
criativas que possam ser mais
facilmente ajustadas às métricas de
mercado e à lógica capitalista.
Importante destacar também
que as limitações e exclusões estão
fortemente vinculadas a questões
sociais, como o preconceito de classe e
de raça. Nesse contexto, o movimento
Hip-Hop, que surge como uma forma
de resistência e afirmação cultural,
enfrenta não dificuldades de ser
reconhecido dentro das métricas de
valor capitalistas de mercado, mas
também o estigma social e o racismo
institucionalizado que permeiam o
campo da economia criativa. Pode-se
dizer, portanto, que a resistência ao
reconhecimento das práticas
econômicas alternativas às de
mercado, como as vislumbradas no
movimento Hip-Hop de Florianópolis,
está diretamente vinculada à um
contexto mais amplo de exclusão social
que está enraizado em uma visão
limitada e elitista da cultura, a qual
subestima e/ou negligencia as
experiências culturais que não se
enquadram, de algum modo, nos
moldes dominantes.
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