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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Sobre continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop moçambicano
William de Goes Ribeiro
1
Laís Volpe Martins
2
Nelson/Simba Sitói
3
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v15i28.67367
Resumo: Este texto expõe uma entrevista remota, transcrita e editada, com Simba Sitói (artista de Hip-
Hop em Moçambique), realizada em 20 de junho de 2024. Trata-se de um dos artistas mais influentes
de Moçambique, atuante na cultura Hip-Hop, como rapper e produtor cultural. É idealizador de
importantes eventos ligados ao tema, o que inclui o protagonismo do jovem artista no Festival de Hip-
Hop “Amor A Camisola”. Neste trabalho, Simba explicita elementos e questões pertinentes para o
estudo na área, os quais apontam para o curso de continuidades e de descontinuidades de uma cultura
globalizada, negociada e ressignificada localmente. Ajuda-nos, portanto, o que justifica a inclusão da
entrevista neste dossiê, a reforçar o nosso argumento em torno do processo complexo e dinâmico da
referida cultura.
Palavras-chave: Hip-Hop; Moçambique; Entrevista.
On continuities and discontinuities in Hip-Hop culture: the case of Mozambique. Interview with
Simba Sítoi, Mozambican Hip-Hop artist
Abstract: This text presents a remote interview, transcribed and edited, with Simba Sitói (Hip-Hop artist
in Moçambique), conducted on June 20, 2024. It is about two of the most influential artists from
Moçambique, active in Hip-Hop culture, as a rapper and cultural producer. He is the idealizer of
important events linked to the topic, or that include the young artist's prominence in the “Amor A
Camisola” Hip-Hop Festival. In its work, Simba explains elements and questions pertinent to the study
of the area, the quais apontam for the course of continuities and discontinuities of a globalized culture,
negotiated and locally re-signified. Help us, therefore, which justifies even the interview in this dossiê,
to reinforce our argument around the complex and dynamic process of the aforementioned culture.
1
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Adjunto na Universidade
Federal Fluminense (UFF), atuando nos cursos de graduação em Pedagogia e Geografia e no
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades (PPCULT/UFF). E-mail:
williamgribeiro@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3940-7492.
2
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal
Fluminense (PPCULT/UFF). Bolsista da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do
Estado do RJ. E-mail: laisvolpemartins@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-9007-4354.
3
Artista de Hip-Hop em Moçambique. E-mail: simbasitoi@gmail.com.
Recebido em 15/03/2025, aceito para publicação em 28/04/2025.
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Keywords: Hip-Hop; Mozambique; Interview.
Sobre continuidades y discontinuidades en la cultura Hip-Hop: el caso de Mozambique.
Entrevista con Simba Sítoi, artista de hip-hop mozambiqueño
Resumen: Este texto expone una entrevista remota, transcrita y editada, con Simba Sitói (artista de
Hip-Hop en Mozambique), realizada el 20 de junio de 2024. Es uno de los artistas más influyentes de
Mozambique, activo en la cultura Hip-Hop, como rapero y productor cultural. Es creador de importantes
eventos relacionados con esta temática, entre los que se incluye el protagonismo del joven artista en
el Festival de Hip-Hop “Amor A Camisola”. En esta obra, Simba explica elementos y cuestiones
pertinentes al estudio del área, que señalan el curso de continuidades y discontinuidades de una cultura
globalizada, negociada y resignificada localmente. Por tanto, lo que justifica la inclusión de la entrevista
en este dossier nos ayuda a reforzar nuestro argumento en torno al complejo y dinámico proceso de
dicha cultura.
Palabras clave: Hip-Hop; Mozambique; Entrevista.
Sobre continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop moçambicano
Introdução
Figura 1 Imagem de Simba Sitói
Fonte: portfólio do artista
4
Julgamos que não cabe neste texto tecermos análises críticas de suas obras e discussões teóricas
de fundo. A introdução visa apenas apresentar o entrevistado (que é pouco conhecido no Brasil). Para
aprofundar o discurso mobilizado pelas suas canções e visualidades, outro trabalho se faz necessário.
A escolha pelo específico artista se deu pelas nuances que a entrevista aponta e que, certamente,
demandam aprofundamentos e estudos, incluindo o contexto e as negociações postas em jogo.
De acordo com o portfólio
profissional, disponibilizado pelo artista,
Simba Sitói é a marca comercial e
nome artístico de um músico que se
expressa, maioritariamente, através
dos gêneros musicais Hip-Hop e
Rap/Soul
4
. No entanto, o artista faz
questão de se integrar em rios estilos
musicais: do clássico ao
contemporâneo, do analógico ao
eletrônico (considerando o contexto de
produção da obra). Explora uma cultura
307
RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
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visual, lúdica e assertiva, que emprega
nas suas visualidades um fator
relevante para a sua expressão criativa,
delicadamente transportada dos versos
e rimas para vídeos e animações,
buscando uma forma sempre inovadora
e irreverente.
Nelson Sitói, proprietário da
marca "Simba Sitói", para além de
músico, se considera um ativista social
e empreendedor cultural,
apresentando-se com uma vasta
experiência em projeção de marcas e
promoção de eventos. A seguir,
destacamos apenas alguns de seus
trabalhos musicais: Hands Up -
Atuação ao Vivo em o Paulo
(Brasil)
5
; Hands Up - Lançamento do
Single (MTV Showcase)
6
; Kick It Chuta
com a participação de Milton Gulli
7
;
Scenario com a participação de Milton
Gulli e Zubz
8
; Last Hope com a
participação de Mota
9
; Daddy never
5
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=-
vAYj5hy5_w>. Acesso em: 25 fev. 2025.
6
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=R8RGkW
OTSPs&t=218s>. Acesso em: 25 fev. 2025.
7
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=RuzVb7riJ
Tc&t=205s>. Acesso em: 25 fev. 2025.
8
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=5yH5yBG
_qMU>. Acesso em: 25 fev. 2025.
came with Flowers com a participação
de The Rocats
10
e Lovely day com a
participação de The Rocats
11
.
Simba Sitoi é um dos pioneiros
do Hip-Hop em Moçambique.
Destacamos que foi o primeiro rapper
moçambicano a assinar com a BBE,
uma record label britânica de renome
internacional. Além disso, Simba criou
a primeira banda moçambicana de Hip-
Hop ao vivo, denominada Simba and
the Rocats; foi o primeiro artista
moçambicano a ter um outdoor de
divulgação do seu trabalho; o primeiro
e único moçambicano a ser convidado
a participar de um dos maiores festivais
de Hip-Hop: A3C Festival (uma espécie
de plataforma de lançamento de novos
artistas do gênero).
O seu single Party People
conquistou o primeiro lugar no top 10 da
MTN Sul-Africana, como música com
maior número de downloads daquela
9
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=IlDzWcR2
2fM>. Acesso em: 25 fev. 2025.
10
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=KPy12p-
FcSU>. Acesso em: 25 fev. 2025.
11
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=s0YogHOt
86k>. Acesso em: 25 fev. 2025.
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Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
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transformações da cultura")
telefonia móvel em 2010. Mesmo se
passando mais de 10 anos desde o seu
lançamento, o vídeo da sua música
Lovely Day, produzido por DJ Marcel,
continua a ser, segundo informa o
artista, o mais caro da história do Hip-
Hop moçambicano. Simba atuou ao
lado de diversos outros artistas, como o
músico e compositor camaronês Manu
Dibango. Por meio de sua rede
profissional, foi escolhido para abrir o
show do rapper e ator estadunidense
Mos Def em Johannesburg, no seu
primeiro tour em África. Destacamos
ainda: primeiro artista moçambicano de
Hip-Hop nomeado para um dos
maiores awards de África em duas
categorias, a competir com artistas de
renome internacional como D’Banj
(cantor nigeriano), Hip Hop
Pantsula/HHP (rapper sul-africano) e
2Face (cantor nigeriano).
Considerando o exposto, o
percurso artístico de Simba Sitói atingiu
patamares amplos, tendo se
consagrado como um dos artistas de
Hip-Hop mais internacionalizados do
continente africano. O seu trabalho
concedeu-lhe acesso, ampliando
quadrantes criativos, a nível
12
Novamente, frisamos que o conteúdo da
introdução é apenas informativo.
internacional, tendo construído
relações de bastante proximidade com
o Hip-Hop. Simba Sitói se encontrou
em Nova Iorque com o legendário "pai
do Hip Hop", DJ Kool Herc, além de
Mos Def (rapper de renome
internacional) e executivos da Def Jam.
Cloud Walker é o nome da
terceira obra discográfica de Simba
Sitói, lançado em 25 de março de 2022.
Segundo o artista, trata-se de um
álbum motivacional, cujo foco é inspirar
pessoas de todas as idades e
segmentos sociais a não desistirem dos
seus sonhos e a seguirem o seu
propósito. O objetivo é partilhar a visão
de que a vontade de fazer algo
acontecer transgride o conceito de
impossível, a despeito dos
enfrentamentos e desafios
12
. O álbum
foi produzido pelo DJ Kenzhero
Origimoz, co-produzido por Simba Sitói
e conta com a colaboração de artistas
de renome internacional,
nomeadamente: Stogie T (rapper sul-
africano), FIFI Cooper (rapper sul-
africana), Sky Wanda (artista sul-
africana), Proverb (rapper sul-africano),
HHP entre outros.
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Finalizando esta introdução,
destacamos alguns dos trabalhos
publicitários de Simba: Primeira
Publicidade Pré-Pago Giro (1999)
13
;
Campanha Vodacom Edjô (2011)
14
;
Campanha Jeito (2012)
15
e Campanha
Mcel Boneco Shiboleca (2018)
16
, além
do Outdoor Publicitário da Marca Xipixi
(2018), do Outdoor do single Hands Up
(2019) e do Rise - Together 4
Mozambique - Ciclone IDAI (2019)
17
.
Considerando o exposto, tendo
observado o dinamismo e a vasta
contribuição de Simba Sitoi para a
cultura Hip-Hop, nacional e
internacionalmente, seguimos com a
nossa entrevista.
Simba Sitói - Posso me apresentar?
Dizer agora que eu estou a fazer esta
conversa convosco. Estou no carro.
Estou à espera de entrar num encontro
que vai começar daqui a uns 40
minutos. Então, estou no meio da
estrada. Meu nome é Simba Sitói. Esse
13
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=eU8hFcLi
LnA>. Acesso em: 25 fev. 2025.
14
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=zO_6No_
X7jQ>. Acesso em: 25 fev. 2025.
15
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=kfCIrLg0L
Fs>. Acesso em: 25 fev. 2025.
é o nome artístico. Sou artista de Hip-
Hop. Sou também parte dos pioneiros
do Hip-Hop aqui em Moçambique. Sou
promotor de eventos, tenho um festival.
E agora vamos começar com um
programa de rádio. Também vamos
fazer uma coisa em televisão. Então,
sou essas coisas todas. Resumindo
assim: fui pioneiro do movimento aqui,
um dos pioneiros aqui do movimento
Hip-Hop.
William Ribeiro - E como se deu o
processo?
Simba Sitói - Hip-Hop em Moçambique
começa mesmo nos anos 1990. Não
começou nos anos 1980. O movimento
em si começa nos anos 1990. No
princípio dos anos 1990. A nossa
introdução com o movimento Hip-Hop
foi ainda na televisão experimental de
Moçambique. Chamava-se... TVE.
Então é aí onde havia um programa de
televisão chamado Espaço Aberto.
16
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=-
dGsiywtpEk>. Acesso em: 25 fev. 2025.
17
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=W4vwlPw
otAw>. Acesso em: 25 fev. 2025.
310
RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Onde passavam músicas estrangeiras.
É importante mencionar que nós somos
de um país que começou socialista,
comunista
18
. E naquela altura nós
podíamos ouvir música estrangeira aos
domingos. Música estrangeira que nós
podíamos ouvir e ouvíamos
frequentemente era música
portuguesa, música brasileira. E alguns
discos americanos. Quando cai o
mundo de Berlim, há um novo começo.
Muita coisa começa a ser consumida.
Muita coisa que nós não consumíamos,
começamos a consumir. Inclusive, é
assim, como mais tarde entra o Hip-
Hop em Moçambique. Obrigado.
William Ribeiro - Obrigado pela
apresentação. É muito pertinente
visualizar o contexto da entrada do Hip-
Hop em Moçambique. Meu nome é
William. Eu estou coordenador de um
Programa de Pós-graduação aqui na
Universidade Federal Fluminense,
Niterói, Rio de Janeiro. Foi que eu
conheci a Laís Volpe, porque ela é
estudante do programa. Estou na
universidade também como professor,
trabalhando com educação. Mas a
18
Cumpre observar que não tivemos condições
de aprofundar o assunto e os referidos termos
não puderam ser explorados na ocasião.
minha trajetória na época da escola,
que eu passei pela escola aqui no
Brasil, foi com o movimento Hip-Hop,
no subúrbio do Rio de Janeiro. Aqui no
Brasil foi uma explosão também, eu
acho, pela divulgação, pela mídia,
meios de comunicação, nos anos 1990,
principalmente. Anos 1990, anos 2000.
E aí passei a fazer parte do movimento
pela dança, porque eu pratico a dança
desde garoto. Foi a minha entrada. E eu
tenho muito interesse na cultura,
emerge nos meus estudos e de amigos,
parceiros que eu tenho até hoje,
procurando entender o Hip-Hop. Então,
conhecer voé uma grande felicidade,
porque uma possibilidade de
entender essa entrada do Hip-Hop em
Moçambique, construir uma rede com o
Brasil, um laço para pensar algumas
questões juntos. Então, muito obrigado
pela oportunidade.
Simba Sitói - Quero também
mencionar que o nosso Hip-Hop aqui
tem uma particularidade. Não sei se foi
o mesmo que aconteceu também no
Brasil, mas o nosso Hip-Hop é de zonas
periféricas. Começa sim em Bronx, mas
311
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continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
o Hip-Hop em Moçambique começa da
elite para os pobres. Não começa ao
contrário. Não começa como começou
nos Estados Unidos. Começa da elite,
por quê? Porque a elite é que tinha a
informação, a elite é que tinha as
parabólicas, os canais internacionais, é
que viam primeiro, é que tinham acesso
primeiro ao mundo em relação ao
jovem da periferia. Então, a elite é que
gravavam as fitas cassetes em VHS e
começava assim a circular, que a
chegava nas periferias. É assim como
começa o movimento aqui.
William Ribeiro - Algo que realmente é
impensável no Brasil, que tem uma
diferença, a gente visualiza o
movimento Hip-Hop ligado à população
negra, principalmente, aos Estados
Unidos, pelo protagonismo dos afro-
americanos na cultura. E aqui no país,
chega pelas periferias, principalmente,
com muita força em São Paulo, mas
também em outras regiões, inclusive no
Nordeste. É pertinente saber. Você
falou do festival, pode falar um pouco
sobre?
Simba Sitói - Existe um festival aqui na
África do Sul, chama-se Back to the
City. É o maior festival de Hip-Hop em
África. Então, o festival Back to the City
aparece como uma espécie de
resposta. São jovens que criaram e
deram o nome Back to the City, que
significa de volta à cidade,
manifestado no dia da liberdade.
Então, o dia da liberdade foi o dia em
que Nelson Mandela saiu da cadeia. O
símbolo, o dia simbólico em que Nelson
Mandela saiu da cadeia é no dia 27 de
abril. Então, que é o Freedom Day. Um
grupo de jovens começou com o
conceito Back to the City, que
significava porque as pessoas negras
não eram permitidas para viver na
cidade. Então, é por isso que está aí o
nome de volta à cidade, que significa
que a cidade é deles, sempre foi
deles, mas hoje estão a voltar para a
cidade. Então, é Back to the City. Eu fui
o primeiro artista internacional africano
que participou do Back to the City
durante talvez três, quatro anos. E com
essa ligação com a África do Sul e ter
de sair de Moçambique para cantar
num feriado na África do Sul, tornei-me
amigo do diretor do festival, que em
várias conversas dizia que nós
precisávamos de uma coisa, de um
festival parecido em Moçambique. Mas
eu sempre neguei, porque eu dizia ao
meu amigo que eu não era promotor,
312
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transformações da cultura")
artista. Eu não me via como promotor
de eventos. Então, nesse processo, eu
voltei para Moçambique, falei com
alguns promotores, sentei com vários
deles, mas todos eles recusaram fazer
o festival de Hip-Hop porque diziam que
não dinheiro no Hip-Hop. Então, não
viam vantagens em fazer um festival de
Hip-Hop. Então, uma vez eu estava a
ver um filme e um dos atores disse que
às vezes tu és o messias que estás à
espera. Então foi isso mesmo que me
incentivou a fazer o festival. Iniciamos
em 2015, tivemos a pausa durante a
COVID e retornamos no ano passado.
William Ribeiro - Entendi.
Simba Sitói - Essa é a história de como
foi que eu cheguei de artista para
promotor. Agora, nós olhamos para o
festival como uma espécie de encontro
internacional. Não é necessariamente
um encontro de artistas
moçambicanos. Nós sempre tivemos o
sonho de ter vários artistas africanos a
participarem do nosso festival. Mas,
muitas vezes, com dificuldades
financeiras. Nós tivemos algumas
subvenções que facilitaram, por
exemplo, para os americanos virem, ou
para os ingleses virem, ou para... não
sei se para perceber. E nós
trabalhamos muitas vezes com o que
temos. O que nós fazemos no festival é
desde performance, workshops,
conferências, ativações. E fazemos
mais...tentamos criar uma sinergia
entre artistas. Criamos debates sobre
como é que nós podemos usar o Hip-
Hop como um veículo para melhorar e
transformar aquela que é a nossa
realidade para o melhor. E ano
passado, nós fizemos uma conferência
que foi a conferência em celebração
dos 50 anos da cultura Hip-Hop.
Tivemos artistas americanos, sul-
africanos, moçambicanos.
Conseguimos até trazer um dos
executivos da Def Jam [Recordings]
para fazer parte do painel. Tentamos
cada vez mais mostrar aos artistas
moçambicanos que podemos também
criar uma sustentabilidade com a arte
que fazemos.
William Ribeiro - Aqui no Brasil, os
temas que são abordados, os assuntos
que são abordados no Hip-Hop são
bem variados. É adifícil você definir.
Mas alguns deles percebemos que são
recorrentes. O tema da desigualdade, o
tema do racismo, a vida na periferia,
Hip-Hop para transformar as
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
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transformações da cultura")
realidades... O que você diria que são
alguns assuntos, alguns temas
recorrentes nas músicas que vocês
trabalham ou no evento como um todo?
Simba Sitói - Bom, eu acho que nós
temos desde o artista de Hip-Hop que
fala sobre festas, artista de Hip-Hop
que fala sobre a realidade
moçambicana, artista de Hip-Hop que
fala sobre os sonhos. Então nós temos
um bocadinho de tudo aqui. O Hip-Hop
também é usado não para falar
daquilo que existe, mas também é
usado para criar uma espécie de
viagem, uma viagem que tu queres
fugir um bocadinho da tua realidade,
crias ali um Mundo Fantástico,
através do Hip-Hop e também tem
artistas que falam da realidade que
querem que várias coisas mudem na
sociedade. E tens artistas que falam,
tens mulheres que falam, direitos das
mulheres tens, e rappers que falam
inclusive, é, tens artistas que já tiveram
na procuradoria, intimados pelo
sistema, para questionar sobre as
letras da música. Então, tens de vários,
tens uma coisa variada em
Moçambique.
William Ribeiro - Eh, essas letras que
foram intimadas, elas tratavam de,
sabe dizer, de que assunto?
Simba Sitói - essas letras eram,
assuntos políticos e que nós temos aqui
um programa de Hip-Hop que se
chama Hip-Hop time clássico. Hip-Hop
que a maioria das músicas são mais é,
a onda é, muitas músicas que passam
lá o que é o apresentador do programa
e o, um dos fundadores, ele é que faz,
ah... como eu posso dizer? Ele é que
faz a censura. Então ele determina qual
é o tipo de conteúdo que passa no
programa dele e tens outros programas
de Hip-Hop que também a coisa é um
bocadinho mais aberta, depois tens
outros que a coisa é muito mais pobre
em termos de, em termos de conteúdo.
William Ribeiro - Você falou que tinha
mais ou menos uns 40 minutos, mas
tem duas coisas que eu queria
perguntar para você. É assim: como
que você vê o Hip-Hop na relação com
a educação em Moçambique?
algum diálogo, alguma relação que
possa ser estabelecida com a escola,
por exemplo? Como é que você vê isso
?
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continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Simba Sitói - Bom, eh, por acaso eu
estou neste momento, tenho alguma
relação com a escola de comunicação
e artes que é uma escola superior.
Temos comunicado com o diretor e
alguns docentes que eles querem
mesmo introduzir várias atividades
extracurriculares que têm a ver com
Hip-Hop agora. Ah, também tenho uma
proposta para eles de aulas com uma
direção assim, do Hip-Hop, desde aulas
que nós usamos, por exemplo, o
próprio Hip-Hop como método de
estudos. Deixar referenciar que o Hip-
Hop, para mim, e particularmente, a
coisa que mais, que eu mais aprendi
com o Hip-Hop, e que eu acho que a
maioria dos artistas aprenderam é a
memória, a capacidade de memorizar
várias palavras ao mesmo tempo.
Então, quando estive a estudar, eu usei
muito a coisa do rap para poder
organizar, assim nos testes. Usei muita
matéria da escola. Estudava com Hip-
Hop que era pegar a matéria de
história, por exemplo, pegar na matéria
de geografia, ciências ou filosofia e pôr
rimas. E tornar aquilo numa coisa,
num verso ou dois ou três. Ah, para eu
poder memorizar mais rápido e poder
fazer o teste. Então, eu acho que
muitas outras coisas que pode-se fazer
com o Hip-Hop, do lado assim, literário.
E também muitas coisas que pode
fazer com Hip-Hop, como a dança,
como a pintura. E com a própria
tecnologia do Hip-Hop. Eu acho que
muita coisa que pode se fazer dentro de
uma faculdade. Ah, mas agora estamos
num bom caminho, porque estamos a
começar esta comunicação, estamos a
ter aquela primeira comunicação em
que podemos tentar levar algo que eles
acham que é positivo e introduzir nas
faculdades, para podemos criar uma
espécie de um currículo. Porque a
própria faculdade precisa disso, porque
vários alunos são s do Hip-Hop, mas
não tem como estudar. Eu não sei se
vais perceber, então para aulas assim,
fui dar algumas palestras para alunos
do direito. fizemos alguma coisa com
a UEM [Universidade Eduardo
Mondlane]. Ah, eu, Iveth e SG (artistas
de Hip-Hop moçambicanos), já fizemos
com a faculdade de letras. fizemos
muitas coisas então eu acho que agora
espaço para começarmos a
introduzir isso. Por isso, estão a
acontecer conversações e eu também
acho que é muito importante entrar
devagar. Começamos primeiro com
aquilo que chamam de guest teachs: é
aquilo quando tu convidas um artista do
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Hip-Hop, por exemplo, e ele, o próprio
artista prepara-se então. Diz: - Olha o
tema é este. Como é que nós podemos
fazer isto?” De uma maneira tal que os
alunos possam aprender sem muita
burocracia da coisa. Então eu acho que
essa coisa é muito importante.
Laís Volpe - Simba, você falou também
de duas coisas que eu queria pontuar.
Você falou do seu trabalho pioneiro.
Falou também da Iveth. Aí, se você
puder mencionar um pouco dessa
presença, assim, feminina, no Hip-Hop
moçambicano, seria massa. E também
você falou da diversidade do Hip-Hop
em Moçambique. E acho que outro
ponto que seria massa falar é da
diversidade linguística. Porque vocês
fazem rap, vamos dizer Hip-Hop em
inglês, em português, em changana,
em ronga, em zulu.
Simba Sitói - em changana, em muitas
línguas.
Laís Volpe - Enfim, acho que isso
também é um ponto super
enriquecedor, para o pessoal que está
no Brasil perceber ...
Simba Sitói - Obrigado por ter
mencionado isso. Na questão das
músicas que são feitas em
Moçambique, na verdade em África, as
línguas mais faladas não são as
línguas, por exemplo, de Moçambique.
Nós temos a língua portuguesa como a
língua oficial, mas não é a língua mais
falada. Então tu tens a língua mais
falada em Moçambique é a macua, é
língua dos macuas que é da zona de
Nampula, mas também Cabo Delgado
falam muito macua. Então aqueles, as
províncias com maior número
populacional em Moçambique, uma
delas é esta dos Macuas. Então, é isso,
em cada província tem a sua língua e
essas línguas também são
transformadas. As que estão
presentes nas músicas, sejam em outro
estilo de música, mas também no Hip-
Hop. Então, se tens um artista de
Nampula que canta em português,
podes ver, perceber que também
outros versos não são em português.
outros artistas que também
simplesmente fazem música na língua
nativa, assim, sem falar português, e
são artistas também com uma
popularidade muito grande. Então, eh,
e depois também tens a prerrogativa de
Moçambique ser um país que fala
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
português, mas que está cercado de
países que falam inglês. Então desde a
revolução que o país criou laços de
irmandade com alguns países vizinhos
e esses países vizinhos, que falam
inglês, tinham, neste caso, por causa
do ensino em inglês, o ensino britânico.
E tinham mais reconhecimento no
mundo e em várias universidades que
corrigiam os testes em Oxford. Então
vários jovens, depois da revolução,
tiveram o privilégio de ir estudar em
países vizinhos. Seja através de
bolsas, seja porque os pais tinham
melhores condições para mandar os
seus filhos para ir estudar num país
vizinho e é por isso que sente-se muito
essa presença também inglesa nas
músicas e na comunicação entre várias
línguas. Inclusive em changana, que é
uma das minhas línguas aqui locais.
Existem muitas palavras em inglês por
causa desta ligação com o mundo que
fala inglês e não também porque
Moçambique é um país na costa e é um
país que sempre recebeu rias e
várias, assim, nacionalidades. E, desde
os anos antes da Independência, nós
tivemos que nos adaptar com várias,
assim, nacionalidades que vinham para
o porto. Vinham para baixo da cidade
para trabalhar e que eram obrigados a
falar inglês, porque todos que vinham
de vários cantos do mundo, tinham que
ir para os restaurantes e esses
restaurantes eles tinham que ter
moçambicanos que falassem as
línguas do mundo. Então, é assim
mesmo como a língua inglesa, as
línguas locais, juntamente com a língua
portuguesa. Tu apanhas até este buffet
de línguas quando ouves o Hip-Hop.
William Ribeiro - Simba, sobre essa
questão da presença feminina, também
acho que Laís tinha perguntado...
Simba Sitói - Eu acho que a presença
feminina no Hip-Hop ainda é um
desafio em Moçambique. O Hip-Hop
sempre foi conotado como uma esfera,
assim, masculina e tens muito poucas
mulheres que se destacam em
Moçambique e que fazem um trabalho
excelente. São artistas que são bem
reconhecidas em Moçambique, mas eu
acho que ainda é um número que eu
gostaria de ver muito maior. Nós temos,
por exemplo, referências como a Iveth,
como eu mencionei, tens a Gina Pepa,
a TMRS Awage, Sista África, Leo Kid e
a Filady, mas ainda acho que o
universo do Hip-Hop feminino é
pequeno. Eu acho que fizemos
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
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transformações da cultura")
dentro do Festival Amor A Camisola,
fizemos uma edição a promover um
concurso feminino e artistas, também a
dar espaço àquelas que são
reconhecidas. Ah, que o elas que
quando subir ao palco, o trabalho ainda
tem que ser muito bem feito. Temos
que fazer mais trabalhos para convidar
mais mulheres a fazerem parte de do
Hip-Hop em Moçambique.
William Ribeiro - Você pode falar um
pouco mais do Festival Amor A
Camisola? E uma dúvida, em relação
às línguas, você falou do inglês, das
línguas moçambicanas e do português.
Fiquei curioso: as línguas, elas
aparecem em letras separadas ou
vocês têm letras que, inclusive,
misturam um momento numa língua,
outro momento em outra? Porque isso
acontece aqui no Brasil.
Simba Sitói - Mas é isso mesmo que
acontece. Nós misturamos muito as
línguas e tens também artistas que
falam, que fazem, por exemplo, que
se expressam numa única língua, que
ou é português ou é só changana, ou é
ronga. Mas a maioria do Hip-Hop,
assim, mais popular, é uma mistura de
inglês-português.
William Ribeiro - E o Amor A
Camisola?
Simba Sitói - Ele começou em 2015.
Começamos em 2015 e ano passado
fizemos a nossa sétima edição.
Tivemos parados durante a época do
COVID. Então a sétima edição foi no
ano passado. Este ano [2024] teremos
a oitava edição, mas ainda não ainda
temos, estamos à espera de algumas
respostas para podermos ter certeza
das datas.
William Ribeiro - vou deixar aqui
minha última pergunta, e também,
depois ...
Figura 2 - Simba Sitói no Festival Amor A
Camisola 2023
Fonte: Instagram do artista Simba Sitói.
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continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
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(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Simba Sitói - Eu queria te perguntar...
também ...
William Ribeiro - Sim, claro...
Simba Sitói - Falaste de um do projeto
que estás, que tu conheceste a Laís
com ele. O que o que que é esse
projeto?
William Ribeiro - A Laís me conheceu
em uma disciplina que se chama
Episteme de/ des/ pós-colonial, que é
uma disciplina que trata de uma
maneira mais ampla, de questões
ligadas a efeitos da colonização em
diversos países e as contraposições
epistêmicas. Lendo teorias e textos que
estão trabalhando o tema. E ela
apresentou o projeto dela. Um projeto
de Mestrado que está discutindo a
questão LGBT em Moçambique.
Inclusive, você falou da presença
feminina, cabe também para a gente
ouvir essa presença LGBT no Hip-Hop.
Você falou que a presença feminina é
um desafio. Possivelmente LGBT
também. Se você quiser falar alguma
coisa, e ela está tratando desse tema.
Laís, se quiser falar mais alguma coisa.
Então quer dizer, a gente se aproximou
porque ela estava precisando de uma
orientação. Aqui no Programa a gente
faz esse processo de orientação e de
formação acadêmica no Mestrado.
Mestrado em Cultura e Territorialidades
[da Universidade Federal Fluminense].
E ela está fazendo esse trabalho aí em
Moçambique, fazendo os estudos dela
também, e construindo em outras
áreas. Porque ela também trabalha
com a produção cultural, com artistas e
tudo mais.
Simba Sitói - No caso do LGBT,
sinceramente, não conheço nenhum na
área do Hip-Hop. Ah então, eu acho
que se temos um défice de mulheres,
eu acho que LGBT também é pior, não
temos mesmo.
Laís Volpe - Total e acho que seria
massa também professor, você falar
um pouco sobre o projeto dos Originais
do Charme e essa sua relação, assim,
com o Charme, com a dança, com Hip-
Hop, que eu acho que também seria
uma plataforma interessante de
conectar com Moçambique.
William Ribeiro - Ah, muito bom Laís.
E a gente faz esse movimento também,
aberto, Simba, de você fazer as
perguntas que você quiser, para
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
conhecer um pouco mais e a gente
trocar ideias. Hoje, estou com 50 anos.
No processo de estudar para me tornar
professor universitário, fui aos
pouquinhos deixando de lado a dança.
E o meu envolvimento no Hip-Hop,
fiquei uns 5 anos mais ou menos
afastado. Com a pandemia e o
movimento de ficar em casa, com os
problemas que eu tive e ligados a isso,
acabei sentindo bastante, me
despertando a vontade de voltar a
dançar. Quando eu voltei a dançar,
para minha surpresa, vi o
amadurecimento das pessoas na
dança. E, vi que não era o único. Que a
geração que aqui no Brasil começou a
dançar, e não o Hip-Hop...antes do
Hip-Hop, o Soul, o Charme, as músicas
da cultura negra e a dança a partir da
cultura negra aqui no Brasil, a geração
estava mais madura. Então comecei a
perceber que havia espaço para eu
continuar a dançar. Danço Charme
também. O Charme acabou sendo uma
cultura carioca que surgiu nas periferias
do subúrbio, principalmente Madureira.
O bairro fica na Zona Norte, uma região
potente da cultura negra: tem escola de
samba, comércio voltado para a
produção cultural e negra etc. E foi
nesse espaço em que eu fui formado
como dançarino. Sempre teve espaço
no Charme para o Hip-Hop, então o
Baile Charme ...tem um baile aqui em
Madureira que acontece nos sábados à
noite, que é um espaço mesmo de
produção, da música, da dança preta
norte-americana e brasileira,
sobretudo. Então onde se dança, onde
tem formação de DJs, onde tem grupos
que dançam e que criam coreografias.
Tem as coreografias que estão
dezenas de anos e que as pessoas
continuam aprendendo e dançando.
Aliás, o dia em que você estiver aqui no
Brasil, faço o convite para a gente ir
à Madureira...
Simba Sitói - Eu acho que podíamos
continuar a conversar num outro dia ou
podemos marcar para amanhã ou...
também estou interessado nesta
conversa, certo?
William Ribeiro - Estou à disposição,
vamos marcar sim para continuar e
trocar contato também. Eu acho que se
você me permitir eu vou passar para
Laís o meu contato de WhatsApp, para
a gente permanecer em contato e
vamos continuar essa conversa.
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RIBEIRO, William de Goes; MARTINS, Laís Volpe; SITÓI, Nelson. Sobre
continuidades e descontinuidades na cultura Hip-Hop: o caso de
Moçambique. Entrevista com Simba Sítoi, artista de Hip-Hop
moçambicano. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 15, n. 28, p.305-320, mar. 2025.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as
transformações da cultura")
Simba Sitói - Eu Concordo. Eu posso
mesmo, posso ligar também para ti,
certo.
William Ribeiro - Prazer, muito
obrigado pela disponibilidade.
Simba Sitói - Continuemos
conversando...tchau... valeu pessoal.
Obrigado.