
da ordem capitalista. Já, em Stuart Hall, a racialização teve como efeito a criação de
um “mundo cultural negro”, em uma perspectiva gramsciniana, que, por sua vez, é
elemento de disputa contra-hegemômica. Hall entende a centralidade da cultura e do
cultural enquanto construção histórica, ligado às condições específicas do sujeito
racializado na diáspora e tem, ao seu lado, elementos contraditórios que pode se
valer para estabelecer outras formas de poder e processos de emancipação.
Por fim, no capítulo 6, Daniel Montañez nos apresenta o pensamento de
Rhoda E. Reddock sobre mulheres, raça e classe no Caribe. É esta perspectiva do
feminismo afro-caribenho que Reddock enfatiza partindo de uma crítica dos modelos
de interpretação que excluem o fato de como a feminização da força de trabalho no
Caribe não pode ser pensada sem sua correlata racialização. Para tal, parte da
história da formação da plantation em Trinidade e Tobago, seu país de origem,
estabelecendo que racialização e feminização da força de trabalho condicionaram os
processos de luta e emancipação sendo, portanto, não elementos acessórios, mas
estruturais à compreensão da dinâmica de classes. Infelizmente, neste capítulo o
pensamento de Reddock não está muito bem relacionado com a de outras autoras
caribenhas e a contribuição destas ao pensamento das feministas radicais negras
estadunidenses. Um ponto de articulação, por assim dizer, é a trajetória de Cláudia
Jones (1915-1964), também nascida em Trinidade e Tobago, e que terá um papel
extremamente importante ao aliar a luta feminista negra ao pensamento socialista de
sua época, além do fato de ter atuado no Caribe e Estados Unidos (de foi expulsa
por sua militância comunista, radicando-se na Inglaterra).
No capítulo final (Capítulo 7), Daniel apresenta as teses conclusivas, um
esforço de sistematização do pensamento destes marxistas negros em teses
teóricas, históricas e políticas, assim como, um resumo das trajetórias deles e de
suas principais obras de referência. Aqui o autor procura responder possíveis
críticos de que o que ele chama de marxismo negro seria apenas um encontro
acidental de autores e pensadores que, por uma contingência história, escreveram a
respeito da relação entre raça e capitalismo. O que afirma Daniel aponta em sentido
contrário: existe uma tradição do marxismo negro, no sentido de um conjunto de
obras e produção que, mesmo não se tornando uma escola, guardam elementos
comuns e contribuições originais a teoria crítica. Afinal, em um mundo intelectual em
que se digladiam gramscinianos, lukcatianos, mezaristas, leninistas e afins, por que
não se falar de marxismo negro? A pergunta, portanto, é que se é possível falar em