
perpetuação das desigualdades sociais e econômicas. Ainda que amplamente
criticada posteriormente pelos estudiosos das relações raciais5, alguns dos aspectos
debatidos por Florestan permanecem com validade de análise para o entendimento
da dinâmica das relações de classe e raça no Brasil. No livro Brancos e negros em
São Paulo: ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestação atuais e
efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana (1955) escrito com Roger
Bastirdes na década de 1950 e depois no artigo Relações de raça no Brasil:
Realidade e Mito (1968) o autor fez uso da categoria novo negro para elucidar a
dinâmica que envolvia as pessoas negras que conseguiam ter alguma mobilidade ou
ascensão social em sociedade capitalista em que a raça era um elemento definidor,
na maior parte das vezes, da sua condição de classe que, no caso da população
negra era, via de regra, entre os setores mais pauperizados da classe trabalhadora.
O conceito novo negro surgiu no início do século XX, especialmente na
década de 1920, durante o movimento do Renascimento do Harlem6. Esse termo foi
popularizado pelo intelectual afro-americano Alain Locke em sua antologia The New
Negro: An Interpretation (1925). Na introdução do livro, Locke indica que havia um
novo momento das relações raciais nos EUA da época e que essa representava
uma nova identidade negra naquele país, marcada pela busca de autonomia, na
afirmação do orgulho racial, cultural e intelectual e no engajamento político na luta
por direitos civis.
No Brasil, o termo novo negro apareceu, em discussões sociológicas sobre a
identidade racial, mobilidade e a ascensão social da população negra, como foi o
caso de Florestan. Assim sendo, o termo foi utilizado para compreender a dinâmica
de ascensão social e racialização da classe média negra, observando como se
comportavam setores da população negra que conquistavam maior acesso à
educação e a empregos qualificados, mas que ainda assim enfrentavam em seu
cotidiano o racismo e a discriminação. Essas discriminações se apresentavam como
6 O Renascimento do Harlem foi um movimento cultural e intelectual que ocorreu durante as
décadas de 1920 e 1930, principalmente no bairro do Harlem, em Nova York. Representou uma
explosão da produção artística, literária e musical da comunidade afro-americana, marcando um
momento de grande valorização da identidade negra nos Estados Unidos.
5 Alguns dos principais estudos críticos da produção de Florestan sobre relações raciais. SLENES,
Robert W. Na senzala uma flor – esperanças e recordações na formação da família escrava: Brasil
Sudeste, século XIX. Campinas, Unicamp, 2011; MOURA, Clóvis. Brasil: as raízes do protesto negro.
São Paulo: Global, 1983. BENTO, Maria Aparecida Silva. “Branqueamento e branquitude no Brasil”.
In Carone, Iray; Bento, Maria. Aparecida. Silva. (Org.). Psicologia social do racismo. Petropolis:
Vozes, 2002.