AquilombaSUS: ancestralidade e tecnologia relacional de produção de saúde

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/1984-0292/2025/v37/65998

Palavras-chave:

SUS, aquilombamento, cuidado, antirracismo, saúde

Resumo

O artigo objetiva apresentar a proposta de conceito-movimento de AquilombaSUS a partir de três dimensões: i) a noção de quilombo como território e conceito; ii) a ampliação do acesso ao SUS pelo princípio da equidade, tendo sua efetivação pela transversalização da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra; e iii) o reconhecimento da articulação entre racismo, anormalidade e desumanização na saúde pública. Dessa maneira, a partir do diálogo com Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento e Clóvis Moura, apresenta-se uma proposta de tecnologia de cuidado em saúde que parte da rebeldia afrodiaspórica ancestral aquilombada como estratégia antirracista para ser incorporada como diretriz no Sistema Único de Saúde. Por fim, em diálogo com Glissant, apresenta-se o aquilombamento como uma poética da relação e da diversidade.

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Biografia do Autor

  • Tadeu de Paula Souza, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

    Professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor da pós-graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. Foi professor Dr. Adjunto do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão e da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFMA (área de concentração Política, Planejamento e Gestão) (2015-2018). Psicólogo, graduado pela Universidade Federal Fluminense (2004), mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (2007), doutor em Saúde Coletiva, na área de Políticas, Planejamento e Gestão em Saúde pela Universidade Estadual de Campinas (2013). Coordenador Adjunto da Comissão de Políticas, Planejamento e Gestão da ABRASCO (2017-2018). Tem experiência no campo da saúde mental/saúde coletiva (álcool e outras drogas) como supervisor clínico-institucional de CAPS e Consultório na Rua e de Apoio Institucional a Gestão do SUS. Autor de dois livros no campo da saúde mental, álcool e outras drogas, redução de danos: “A saúde entre a macro e a micropolitica de drogas: perspectivas da redução de danos” (São Paulo, Ed. Hucitec, 2018) e “Guerra às drogas e redução de danos: nas encruzilhadas do SUS” (São Paulo. Ed. Hucitec, 2022). Atuou como consultor do PNUD e OPAS para a Política Nacional de Humanização/Ministério da Saúde de 2007 a 2015 na função de coordenador nacional da frente de Planejamento, Monitoramento e Avaliação. Coordenador do Grupo de Pesquisa “Egbé: Negritude, Clínica e Políticas do Comum”, com foco no racismo, branquitude e cosmologias améfricanas. Diretor do selo editorial Diálogos da Diáspora (Ed. Hucitec).

  • Emiliado de Camargo David, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, RJ, Brasil

    É psicólogo, doutor e mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP/ Bolsista CNPq), com especialização lato sensu em Psicopatologia e Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), cujas pesquisas foram desenvolvidas na área da Saúde Mental da População Negra, propondo a aquilombação da Rede de Atenção Psicossocial e a antimanicolonialidade da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial. Atualmente é professor adjunto do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IP/UERJ); docente colaborador do Mestrado Profissional em Atenção Psicossocial (MEPPSO) do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Integra o AMMA Psique e Negritude Centro de Pesquisa, Formação e Referência em Relações Raciais. É membro do grupo de trabalho Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). Há mais de uma década trabalha psicólogo no Sistema Único de Saúde (SUS), mais especificamente nos Centros de Atenção Psicossocial II e III (Infanto, Juvenil e Adulto), além de atuar como psicólogo clínico em consultório particular. 

  • Rachel Gouveia Passos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

    Professora Adjunta lotada no Departamento de Métodos e Técnicas da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro; docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro; colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense e coordenadora do Projeto de Pesquisa e Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos, vinculado à Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esteve como Assessora Técnica Especializada do Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Atenção Especializada em Saúde do Ministério da Saúde (DESME/SAES/MS) no período de junho de 2023 a março de 2024. É pós-doutora em Direito pelo Programa de Pós-graduação em Direito, vinculada à linha de pesquisa Direitos Humanos, Democracia e Ordem Internacional, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2023); pós-doutora em Serviço Social e Políticas Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (2018). Pesquisadora Jovem Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ. 

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Publicado

2025-08-18

Edição

Seção

Dossiê V Colóquio Michel Foucault - a judicialização da vida

Como Citar

AquilombaSUS: ancestralidade e tecnologia relacional de produção de saúde. Fractal: Revista de Psicologia, Rio de Janeiro, Brasil, v. 37, p. Publicado em 18/08/2025, 2025. DOI: 10.22409/1984-0292/2025/v37/65998. Disponível em: https://www.periodicos.uff.br/fractal/article/view/65998. Acesso em: 8 dez. 2025.