Entre paredes materiais e psicológicas:
a construção de abientes nos contos “A casa dos mastros” de Orlanda Amarilis e “No moinho” de Eça de Queiroz
Palavras-chave:
Literatura Comparada, Espaço Ficcional, Opressão FemininaResumo
Este artigo explora a função do espaço ficcional nos contos “A Casa dos Mastros”, de Orlanda Amarílis, e “No Moinho”, de Eça de Queirós. A análise comparativa foca em como os ambientes, especificamente o espaço físico das casas, transcendem a mera descrição para se tornarem elementos cruciais na construção dos conflitos internos das personagens e das tensões sociais e psicológicas de suas épocas. Ambos os autores utilizam a casa como um elemento central e simbólico, refletindo o aprisionamento e o sofrimento de suas protagonistas, Violete e Maria da Piedade. Em “A Casa dos Mastros”, o ambiente é um reflexo da solidão e deterioração moral de Violete, enquanto em “No Moinho”, a casa, apesar de bem cuidada, espelha a opressão e o adoecimento da sociedade e da protagonista. O estudo se ampara nas teorias de Gaston Bachelard, Michel Foucault e Doreen Massey. Bachelard enfatiza a dimensão psíquica do espaço, mostrando como a casa se torna uma extensão da subjetividade. Foucault aborda o espaço como um reflexo das relações de poder, e Massey o vê como uma “dimensão social” que revela interações e conflitos. A comparação demonstra que as casas nas duas obras não são apenas cenários, mas personagens ativas, testemunhas da opressão feminina e da rigidez de sociedades patriarcais. Elas representam um "cárcere" que confina as protagonistas, moldadas pelas expectativas sociais e pela falta de liberdade. Dessa forma, o espaço ficcional se revela como um espelho das angústias e da luta por autonomia das personagens, ampliando a compreensão das complexas relações entre indivíduo, sociedade e subjetividade na literatura.
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Referências
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