A “Crise” de Representação Política
Obstáculos à Accountability Vertical em Angola
DOI:
https://doi.org/10.22409/v68vqc77Palavras-chave:
Crise de representação política, Accountability Vertical, Sistema eleitoral, AngolaResumo
O presente artigo tem como objetivo analisar a chamada crise de representação política em Angola, com ênfase na dinâmica da accountability vertical. A literatura em ciência política identifica essa crise como resultado de fatores institucionais e comportamentais que ampliam a distância entre governantes e governados, comprometendo a legitimidade representativa. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, fundamentada na revisão da literatura especializada e em estudos prévios sobre participação política em Angola, mobilizando dados do estudo Makas da Participação (Mosaiko, 2024), realizado na província de Luanda, bem como indicadores do Afrobarómetro em âmbito nacional. Os resultados indicam que o sistema eleitoral angolano contribui para transformar o mandato representativo em mandato imperativo partidário, enfraquecendo os mecanismos de accountability vertical. A elevada taxa de abstenção nas eleições de 2022 e os baixos índices de participação cívica reforçam a percepção de crise. A análise evidencia que os cidadãos enfrentam severas limitações no controle de seus representantes, em virtude do desenho institucional e da fragilidade da cultura política participativa. Conclui-se que a accountability vertical em Angola é praticamente inexistente, o que reforça a necessidade de reformas estruturais no sistema político e de estudos que aprofundem a compreensão da cultura de participação no país.
Downloads
Referências
ANTÓNIO, Nelson Domingos. Transição pela transação: uma análise da democratização em Angola. 2. ed. São Paulo: Alupolo Editora, 2019.
ASSEMBLEIA NACIONAL. Constituição da República de Angola. Luanda: Assembleia Nacional, 2010.
ASSEMBLEIA NACIONAL. Compêndio da Legislação Eleitoral. Luanda: Assembleia Nacional, 2017.
BIRCH, Antony. Representation. Nova Iorque: Praeger Publishers, 1971.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
BOIO, David. Elementos de manipulação e fraude eleitoral detetados nas eleições angolanas de 2022. Cadernos de Estudos Africanos, v. 45, p. 101-133, 2023.
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1997.
CARNEIRO, Carla B. L. Governança e accountability: algumas notas introdutórias. Mar. 2000. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/154251533/Governanca-E-Accountability. Acesso em: 27 ago. 2024.
MANIN, Bernard. The principles of representative government. Nova Iorque: Cambridge University Press, 1997.
MARTINS, Manuel Meirinho. Representação política: eleições e sistema eleitorais - uma introdução. Lisboa: Instituto Superior de Ciência Sociais e Políticas, 2008.
MATIAS, Gildo. Congruência ideológica e política em Angola: análise comparativa dos deputados eleitos para a Assembleia Nacional e respectivos eleitores. Lisboa: ISCTE, 2012.
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasília: Universidade de Brasília, 1982.
MOSAIKO. Makas da participação: juventude e participação em Luanda 2023. Luanda: Mosaiko-Instituto para a Cidadania, 2024. Disponivel em: https://mosaiko.op.org/makas-da-participacao/. Acesso em: 23 jul. 2024.
MAINWARING, Scott; WELNA, Cristopher. Democratic Accountability in Latin America. New York: Oxford University Press, 2003.
O'DONNELL, Guillermo. Accountability horizontal e novas poliarquias. Lua Nova, n. 44, p. 27-45, 1997.
PRZEWORSKI, Adam. Democracy, Accountability and Representation. Londres: Cambridge University Press, 2001.
QUINTAS, Orlando Pedro. Autonomia local em Angola: sentido e alcance. AbeÁfrica: Revista da Associação Brasileira de Estudos Africanos, v. 4, n. 4, 2020.
QUINTAS, O. P.; SILVA, J. M. Análise da accountability horizontal no Estado angolano. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 9, n. 1, 2023.
SELL, Carlos Eduardo. Introdução à sociologia política: política e sociedade na modernidade tardia. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistemas Partidários. Brasília: UNB, 1982.
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ANGOLANO. Ácordão 111/2010. Luanda, 2010.
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ANGOLANO. Ácordão 319/2013. Luanda, 2013.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 ZIZ - Revista Discente de Ciência Política

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
