Dispositivos de fronteira, tecnologias digitais e soberania:  uma leitura da Operação Acolhida como parte de um ecossistema de desinformação

Autores

  • Sofia Cavalcanti Zanforlin Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
  • Julia Afonso Lyra Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
  • Laura Santos de Souza Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

DOI:

https://doi.org/10.22409/bs7g2r49

Palavras-chave:

Operação Acolhida; Fronteira; Desinformação; Vigilância; Soberania.

Resumo

O Brasil recebe venezuelanos por meio da Operação Acolhida (OPA), responsável pela documentação, triagem sanitária e abrigamento dos migrantes. Este artigo analisa a OPA a partir de três premissas: 1) a estruturação como um dispositivo de fronteira que insere a “vida nua” num outro bios, o midiático ou virtual (Sodré, 2021); 2) o uso de tecnologias digitais para controle e datifi cação de migrantes e sua relação com a questão da soberania nacional; 3) a legitimação como “política modelo” a partir de práticas de desinformação e pactuação de consensos. A análise, realizada a partir de trabalho de campo etnográfico e documentos recebidos via Lei de acesso à informação (LAI), mostra como a reiteração de enunciados parciais e a mobilização do medo, associados à redução da atuação estatal por meio das Forças Armadas e ONGs, têm acentuado a precarização da vida dos migrantes.

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Biografia do Autor

  • Sofia Cavalcanti Zanforlin, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

    Pós- Doutorado pela ESPM - SP. Doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011), mestrado em Comunicação pela Universidade de Brasília (2004) e graduação em Comunicação com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Autora do livro Rupturas Possíveis. Representação e Cotidiano na série Os Assumidos (queer as folk), lançado em setembro de 2005 pela editora Annablume. Atualmente, trabalha com os temas da Migração, Interculturalidade e Comunicação. 

  • Julia Afonso Lyra, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

  • Laura Santos de Souza, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia (PPGEM), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Graduada no curso de Comunicação Social - Radialismo e Jornalismo pela UFRN.

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Publicado

2025-08-29