Do “faz como digo” ao “faz como faço”: Foucault ou a escrita como arte de não governar
Foucault ou a escrita como arte de não governar
DOI:
https://doi.org/10.22409/1984-0292/2025/v37/66346Palavras-chave:
devotio moderna, escrita científica, Michel Foucault, pedagogia do ensino superior, pedagogia jesuíticaResumo
Este estudo procura assinalar três formas de manifestação da relação entre escrita e “arte de governar”. Examina-se, em primeiro lugar, a atitude crítica – ou “arte de não ser governado assim” – que se reflete no movimento religioso da devotio moderna, sobretudo na Imitação de Cristo de Tomás de Kempis, para, de seguida, se analisar a pedagogia jesuítica como máquina de rarefação e de governo da (e pela) escrita. O artigo culmina com uma proposta de revisitar a obra de Michel Foucault a partir do que os seus textos realmente fazem, e não tanto do que dizem ou do que sobre eles se diz. Na obra deste professor-investigador, que escrevia para se distanciar de si próprio e se transformar, descobre-se um processo de subjetivação pela escrita no qual a figura do intercessor já não aparece nos trajes do monge asceta, no discurso neutro do manual escolar ou na forma intimidante do autor genial e inacessível, mas como um “amigo do texto”, uma voz que se elege por afinidade e à qual se reserva o lugar de treinadora da nossa escrita. Como conceber a relação pedagógica centrada na escrita como uma arte de não governar nem ser governado?
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